Nos últimos anos, tenho visto discussões muito acaloradas na internet, assim como vídeos de análises e mesas de debate na TV de comparações de carreiras de jogadores de futebol. Geralmente, são perguntas como "Quem foi maior, ou melhor" ou afirmações como "fulano no auge jogou mais que ciclano" e são debates bem fundamentados com estatísticas, títulos e lances. Mas tem um aspecto que na maioria das vezes é comparado que me causa um certo incômodo. São os "anos de auge" conforme é dito na internet, que nada mais é do que o tempo em que determinado jogador conseguiu performar no mais alto nível — vamos colocar aqui como estar entre os 100 melhores do mundo.
No atletismo, o atleta que ultrapassa a linha de chegada primeiro, salta ou arremessa mais longe, ganha, é fácil fazer comparações e dizer quem é melhor. Isso porque existem ferramentas para mensurar. Por outro lado, no futebol, os critérios para dizer quem é “melhor” ou “pior” são muito mais subjetivos devido a terem tantos jogadores em cada equipe e pela falta de um fator preciso, mensurável ou determinante para avaliarmos.
Recentemente, o caso do jogador de futebol Paul Pogba, suspenso do futebol por 4 anos por doping, reacendeu o debate sobre ele ser ou não, um grande craque da geração passada, com vídeos de melhores momentos pelos clubes que passou, currículo de títulos e até mesmo seus jogos na Copa do mundo de 2018 a qual a França sagrou-se campeã. Em meio a muitos argumentos, muitos internautas avaliaram que ele não chegou a ser um grande craque, pois seu "auge" só durou seis anos, como se isso fosse algum demérito e isso me fez perceber que talvez o grande público não tenha noção do quão impressionante é um atleta ter um "auge" de seis anos, independente do esporte.
Ser um atleta de alto rendimento implica em estar diariamente submetendo o seu próprio corpo a uma quantidade extremamente nociva de "estresse". O estresse, nesse caso, é acarretado pelos estímulos que precisamos submeter o corpo para haver melhora do rendimento durante o treinamento e consequentemente na competição, ou seja, ao tentarmos tirar 100% das habilidades físicas do nosso corpo, estamos machucando-o. Posso falar com propriedade que qualquer atleta, ao chegar no auge, quer prolongá-lo pelo maior tempo possível, mas isso nem sempre acontece por um simples motivo — nossos corpos.
E isso é tanto para esportes coletivos quanto para individuais, às vezes não é por falta de vontade, mas o corpo começa a não responder da forma que desejamos, lesões começam a ser mais frequentes, e o rendimento geral começa a cair, é natural com o avanço da idade e os anos de treinamento. Manter-se no auge por seis anos é louvável, independente de usar o argumento que atleta x ou jogador y tiveram uma longevidade maior, permanecer tanto tempo assim em alto rendimento é algo digno de admiração.
É como diz aquele velho ditado, muito mais difícil que chegar ao alto rendimento é permanecer. O nível de exigência requerido e a competitividade que existe podem ser enlouquecedores e isso é mais um aspecto que dificulta manter-se no topo por um período prolongado de tempo. Muitos atletas, ao chegarem, acabam sucumbindo por não conseguirem lidar com tudo que lhes é exigido.
Acredito que não deveria ser tão relevante quantos anos de auge algum atleta teve ou possa ter, ele deve ser admirado. Em caso de comparação, enquanto esses anos durarem, o esporte, além de ser sobre superar seus limites e demonstrar quantas coisas incríveis o corpo humano é capaz de fazer, é também sobre inspirar pessoas e isso independe de anos de auge.