Dentre os milhares de esportes que existem mundo afora, para distingui-los, podemos separá-los em duas categorias principais: esportes coletivos e esportes individuais. Naturalmente, dentro desses grupos, é possível que haja aspectos ou eventos de outro grupo, por exemplo, no atletismo ou na natação que são esportes majoritariamente individuais, temos os revezamentos, que são provas coletivas em que o resultado passa obrigatoriamente por todos os integrantes da equipe.
Por mais que os treinamentos sejam feitos em grupo, praticar esportes individuais é bastante solitário. Na maior parte do tempo, estamos competindo conosco, com nossos pensamentos, inseguranças, expectativas e marcas. Claro que no momento de competição temos outros adversários e essa é mais uma luta que temos que encarar, mas no dia a dia somos nós consigo mesmo. Para mim, sempre foi desafiador expressar bem como me sinto lidando com as demandas do esporte. Na minha cabeça, sempre pareceu que quem não pratica não entende e isso é uma daquelas coisas que não se consegue explicar, tem que se viver para entender.
A carga mental que nos é exigida, na maioria das vezes, supera a carga física do esporte. Conviver diariamente com as dores, que são inevitáveis, o cansaço, a exigência dos treinamentos, lidar com a autocobrança para performar bem, com as expectativas próprias e de terceiros e ter a consciência de que quando entramos para competir estamos sozinhos, são exemplos de coisas que nos isolam um pouco e nos fazem sentir sós nessa caminhada.
Indo além disso, por ser um meio extremamente competitivo, nos vemos um pouco sem saída ou receosos de falar sobre isso com nossos colegas de treino ou de profissão, por medo de sermos taxados como fraqueza ou até mesmo por não querer parecer fragilizado para um possível adversário. É importante que falemos sobre isso entre nós para assimilarmos que não estamos sozinhos, no fundo, estamos todos passando pela mesma coisa.
Ao longo de uma carreira, muita coisa acontece e sempre precisamos priorizar o que é melhor para a gente e para os nossos, mas em alguns momentos é necessário que priorizemos nós mesmos para continuar vivendo o sonho. Nos últimos anos, tem-se falado muito sobre saúde mental e, cada vez mais, vemos atletas “dando um tempo” de praticar seus esportes para se cuidar, esse é um exemplo de priorização do indivíduo.
Mesmo que haja diversas pessoas por trás trabalhando com o atleta, mesmo que um país inteiro ou patrocinadores estejam esperançosos aguardando a performance do atleta, os atletas têm entendido cada vez mais que está tudo bem se priorizar, afinal só nós sabemos o que passamos.
É importante que tenhamos cautela para tomar qualquer decisão, até por elas não afetarem somente nós mesmos, mas, ao mesmo tempo, temos que ter a sabedoria de agir de uma forma que traga o maior benefício para nós mesmos, pois no fim das contas tanto as vitórias quanto as derrotas caem nas nossas costas, são nossa responsabilidade, o sonho é nosso, de cada um, individualmente, por mais que haja uma rede que sonhe junto e incentive. Talvez seja isso que nos faça sentir solitários, talvez seja por isso que essa vida que levamos não é para qualquer um.