Chegamos a mais um mês de novembro, que também é o Mês da Consciência Negra. E como você, caro leitor, sabe, sempre procuro trazer aqui textos relativos à temática, não necessariamente relacionados com esporte, até porque o objetivo é que a consciência negra transcenda o esporte e alcance as mais diversas áreas da sociedade. Porém, vou aproveitar a oportunidade para falar de uma das minhas principais referências negras no esporte, que, a meu ver, está só abaixo de Adhemar Ferreira da Silva: Jesse Owens.
Para começar a falar do óbvio, Jesse Owens é sempre citado nas listas de maiores atletas de todos os tempos pelo feito de ter conquistado quatro medalhas de ouro em uma mesma edição de Jogos Olímpicos — nos 100 metros rasos, 200 metros rasos, salto em distância e revezamento 4x100 metros. Talvez quem não esteja muito familiarizado com atletismo não entenda o tamanho desse feito, mas para exemplificar, é algo tão extraordinário que acredito piamente que não assistiremos a alguém fazer isso novamente, nunca mais.
Recado para o mundo
E o motivo pelo qual Jesse Owens é tão conhecido não é simplesmente pelo fato de ele ter ganhado quatro medalhas de ouro em uma edição, mas sim por ter conquistado quatro ouros nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, no auge do regime nazista, quando a Alemanha era comandada por Adolf Hitler. Ao ganhar quatro provas, Jesse Owens, sem querer, acabou causando um grande dano à teoria da supremacia ariana que desejava demonstrar para o mundo, durante os Jogos Olímpicos, sua suposta superioridade. Ao vencer o atleta alemão Lutz Long, o favorito no salto em distância, Jesse Owens mandou um recado para o mundo inteiro e automaticamente se tornou um ícone histórico.
Essa história já é bastante sabida, hoje em dia é aquilo que chamamos de conhecimento geral, mas o que pouca gente sabe é que, ao voltar para os Estados Unidos, Jesse Owens não foi nem um pouco aclamado por seus feitos. Pelo contrário, o país vivia o auge da segregação racial e nenhuma autoridade o reconheceu, inclusive sendo proibido de comparecer à recepção que o presidente dos Estados Unidos fez apenas para atletas brancos que voltaram das Olimpíadas.
Essa falta de valorização de figuras negras relevantes já perdura há muito tempo. Jesse Owens é apenas um exemplo entre tantos outros que foram escanteados e só após suas mortes (algumas trágicas) tiveram o seu devido reconhecimento e ainda sim, em muitas ocasiões, são pouco lembrados fora do movimento negro. É essa desvalorização que faz com que tenhamos poucas referências negras para que jovens e crianças possam se espelhar.
Falta de referências
Jesse Owens pode até ser uma dessas referências por sua história e feitos, mas ele é estadunidense. Em quais referências do Brasil jovens e crianças podem se espelhar? Aliás, conseguimos pensar em três pessoas negras brasileiras que não sejam atletas ou artistas? É um exercício mental que não deveria existir; é imprescindível que valorizemos e exaltemos mais as referências negras das mais diversas áreas.