Como venho escrevendo em meus textos, estou em viagem, ainda não voltei para casa (parti no dia 21 de janeiro). Estou em São Paulo há aproximadamente 10 dias, para um período de treinamentos com outro técnico (o “grande” Kiyoshi!) e competição ao final, no domingo (25), para encerrar a minha “tour indoor”. A medida que o final desse período se aproxima, fico refletindo o quanto eu consegui aprender durante esse tempo e fico extremamente satisfeito com isso. A possibilidade de sair do país, treinar e competir é um privilégio que muitos não têm, embora seja muito necessário no atletismo, por isso me sinto abençoado de ter essa oportunidade.
Podemos até chamar de estágio ou intercâmbio esse período que passei vivenciando outra cultura esportiva, usufruindo de uma estrutura de primeiro mundo, competindo em complexos que nem mesmo existem no Brasil, além de treinar sob o olhar de diferentes treinadores — algo que por muitas pessoas do meio não é bem aceito, mas que eu e meu treinador (salve, Arataca) acreditamos ser importantíssimo para o meu crescimento e desenvolvimento como atleta.
Esse intercâmbio muitas vezes é a chave para uma temporada exitosa, pois veja bem: aqui no Brasil, pelo menos em esportes individuais, temos a tendência de treinar com o(s) mesmo(s) treinador(es) por muito tempo, às vezes pela carreira atlética inteira. Isso obviamente tem prós e contras, mas quero focar em um ponto muito específico ao qual muita gente não presta atenção. Quando se treina muito tempo com o mesmo treinador, ele começa a inconscientemente assimilar os “vícios” do atleta e isso pode acabar sendo prejudicial, pois esportes individuais trabalham com detalhes e quanto menos correções um treinador for capaz de fazer, pior é para o desempenho do atleta.
Por essa razão, esse olhar de alguém “de fora” é algo que valorizamos muito, não vejo motivo para não tentarmos sempre que possível fazer esse movimento de treinar em outros lugares sob outra supervisão, embora eu entenda que isso é bastante incomum.
Por algum motivo, os treinadores, num geral, não são muito abertos a essa ideia. Talvez por medo de perder o atleta, talvez por não querer ajudar um possível adversário ou por não querer “dividir a receita” com outro treinador concorrente, mas acho que não deveríamos ser tão mesquinhos. É verdade que podemos ser adversários, mas também em vários casos ter a opção de treinar mais de um atleta de alto rendimento ou até mesmo trocar experiências com outro treinador deveria ser visto como uma boa oportunidade, inclusive para os demais atletas, não como algo negativo ou a ser rechaçado.
O intercâmbio de treinamento é uma ferramenta poderosa que deveria ser mais utilizada pelos atletas e treinadores de alto rendimento. Todos têm a ganhar com isso, atletas, treinadores, organizações, clubes, principalmente o esporte em sua totalidade, se beneficiaria muito desse tipo de troca. Meus caros atletas e treinadores, abram suas mentes.