Quando nos deparamos com a pergunta: você gosta de viajar? Acredito que a grande maioria das pessoas responderia que sim. Conhecer novas culturas, lugares, comidas e toda a experiência que se adquire viajando é algo sempre almejado por muita gente. Existem poucos pontos negativos em viajar, e isso a torna uma atividade ímpar.
Atletas de alto rendimento talvez estejam em um seleto grupo das pessoas que mais viajam ao longo de um ano. As dezenas de competições e treinamentos nos mais diversos cantos do mundo, a oportunidade de conhecer os mais variados países pode parecer a vida dos sonhos e é motivo de inveja por muitos que olham de fora, mas será que é mesmo?
Comecei a praticar atletismo muito cedo, aos 8 anos, e a viajar para competições com mais frequência a partir dos 14. Ou seja, viajar começou a fazer parte da minha vida já durante a idade escolar.
Períodos que variavam de 5 a 15 dias em múltiplos momentos do ano não deixavam meu aprendizado impune. Era difícil conciliar e recuperar as aulas, lições e provas perdidas. Era uma responsabilidade a mais, em conjunto com todas as outras requeridas para ser um estudante-atleta.
Nesse período, mesmo sendo necessário para o meu desenvolvimento como atleta, viajar atrapalhava meus estudos. Foi mais ou menos nessa época que comecei a entender que viajar talvez não fosse tão maravilhoso quanto eu outrora pensava.
No próximo domingo (21) vou viajar e passar um período de aproximadamente 40 dias fora de casa, entre treinamentos e competições. Embora não seja um período tão longo, nesse meio tempo perderei: três aniversários de família, uma formatura, o feriado de carnaval (não que eu fosse deixar de treinar por causa disso), um mês de aula de francês, sem contar os convites de palestras, bate-papos e entrevistas que podem surgir nesse meio tempo e não poderei fazer.
E isso nós estamos falando apenas do primeiro trimestre de 2024. Em um ano como esse, de Jogos Olímpicos, com certeza terei mais ocasiões em que estarei longe de casa e me farei ausente.
Sem levar em consideração o custo financeiro de viajar por esse período, acho que o custo maior é o da ausência. A perda de momentos importantes e especiais com as pessoas que amamos. E não é como se fosse algo recuperável depois, são situações as quais perdemos para sempre em prol do sonho.
Aliás, tudo que abdicamos é em prol do sonho, e isso torna o tipo de vida que levamos por muitas vezes injusta. Tudo que fazemos é uma grande aposta. É o que a gente aprende desde cedo no esporte: para ganhar algumas coisas temos de abdicar de outras, não existe outro caminho.
Quero deixar bem claro aqui que esse texto não é contra viajar ou querendo dizer que as viagens são algo negativo na vida dos atletas. Inclusive, foram as viagens que despertaram o meu amor por outras culturas, línguas estrangeiras e me fizeram escolher o curso no qual me formei: relações internacionais.
Tenho como objetivo apenas ilustrar que nem tudo são flores quando vemos atletas viajando por aí. Viajar é ótimo. Para nós, atletas, necessário. Mas o preço é alto.