O ano olímpico começou oficialmente, o que traz muita expectativa para nós, atletas. Por isso, eu e meu treinador, Arataca, decidimos começar a temporada mais cedo, em janeiro, já com o objetivo de fazer marcas boas para progressivamente ir em direção ao índice olímpico.
Por causa disso, decidi voltar aos Estados Unidos. Mais precisamente para a cidade de Kent, em Ohio, onde morei por quatro anos enquanto fazia faculdade. Esse retorno a um lugar que foi minha casa durante um período talvez seja a injeção de energia de que eu preciso para encarar o ano louco que terei pela frente.
É interessante “voltar” para a faculdade depois de formado, com alguns anos de vivência a mais e mais maduro. Mesmo que os lugares e a maioria das coisas sejam os mesmos, na minha visão eles parecem completamente diferentes, quase como aquela sensação que temos ao visitar a antiga escola de Ensino Médio depois de adultos.
A maturidade que ganhamos ao longo do tempo nos faz encarar a vida de outra forma. Também nos faz refletir sobre como antes as coisas que pareciam desafiadoras talvez não fossem tanto assim. Ou que talvez só as víssemos dessa forma por ter experiência o suficiente para lidar com as situações. E isso acontece em qualquer área da vida, inclusive no esporte.
Quando se é atleta, há diversos desafios que nos confrontam diariamente. À medida que vamos subindo os degraus e nos destacando, esses desafios se tornam cada vez maiores e mais complexos. Mais atores entram em cena e aumentam as responsabilidades, expectativas e a pressão. Isso pode enlouquecer qualquer um.
E com atletas jovens é ainda mais difícil. Não faltam exemplos de gente que sucumbiu, que não conseguiu atingir seu potencial e ficou no meio do caminho por não conseguir lidar com tamanha exigência. Se dedicar a um esporte demanda que se amadureça mais cedo, não há outra opção, pois os desafios e disciplina exigidos não são facilmente suportados.
Crescimento pessoal
É preciso maturidade para lidar com uma derrota quando se tinha o favoritismo, e também para lutar até o fim, mesmo já sabendo que perdeu. É preciso ser maduro também quando se ganha, para que o resultado não suba à cabeça. E também para seguir trabalhando quando os objetivos não são atingidos.
Voltar aos Estados Unidos me fez perceber o quanto eu cresci nesses últimos cinco anos em que fiquei longe. Também fez refletir o quanto cresci em quatro anos morando em outro país.
É inevitável pensar como seria minha experiência morando fora se tivesse a maturidade que tenho hoje durante a faculdade. E não digo isso por ter sido experiência ruim. Muito pelo contrário: foi algo que mudou minha vida e exigiu muito de um Samory com 18 anos de idade, que saía da casa dos pais pela primeira vez e se mudava para um país diferente.
Se não fosse o esporte, talvez eu não tivesse maturidade para tirar tanto proveito dessa e de outras experiências que tive. Em diversos momentos da vida fora da pista tive a habilidade de conseguir lidar com tudo que veio à mim. Maturidade é um dos aspectos que o esporte ensina que mais podemos aproveitar para o resto da vida. Às vezes, maturidade é a chave.