Esta semana, no sábado (28), está previsto para ocorrer o Torneio Escolar Rotary Sogipa, e eu sou um dos “padrinhos” dessa competição que já está no seu sétimo ano. Começa às 8h da manhã e termina por volta das 18h.
Esse torneio é uma grande “peneira” de atletismo que anualmente conta com a participação de mais de mil crianças oriundas principalmente de escolas públicas de Porto Alegre e região metropolitana e é sempre muito aguardado por todos nós que organizamos.
Para os jovens e crianças, é um dia muito especial porque é a primeira oportunidade de vivência esportiva que a grande maioria tem. E não só isso, é a primeira vez que muitos conseguem entrar num clube social-esportivo.
Muita gente subestima o importante papel que os clubes esportivos detém no esporte brasileiro. E nesse caso, não me refiro apenas ao esporte olímpico, mas no geral mesmo. São eles os únicos formadores de atletas, e os principais responsáveis pela manutenção do esporte no nosso país. É consenso geral que se não fossem os clubes, não existiria esporte no Brasil.
Com exceção dos clubes de futebol, por motivos óbvios, os demais clubes esportivos não têm, nem de perto, o reconhecimento ou investimento que deveriam e mereceriam ter. Em suma, fazem muito com pouco.
É admirável o que fazem os clubes, principalmente levando em consideração as dificuldades de trabalhar com esporte no Brasil. Os recursos públicos são escassos, há falta de patrocinadores privados, estrutura, espaço físico e, atualmente, o desinteresse das crianças e jovens em praticar esportes. Além disso, há sempre uma preocupação muito presente, principalmente nos “clubes grandes”, em trazer medalhas em grandes competições como mundiais e olimpíadas para justificar o investimento recebido ao longo dos anos e renovar patrocínios.
Ao mesmo tempo, observo uma dificuldade cada vez maior de angariar novos adeptos aos esportes praticados nos clubes por dois motivos: não há políticas públicas que incentivem o esporte e fazer parte de um clube custa dinheiro.
Quando entrei no meu clube, Sogipa, com 8 anos de idade, só pude ingressar no atletismo porque na época havia um projeto social da prefeitura de Porto Alegre que dava bolsas para crianças de baixa renda nos clubes esportivos da Capital. Se não fosse o projeto, minha família não teria condições de pagar a mensalidade do clube e, consequentemente, sem dúvida nenhuma, não teria me formado numa universidade americana, ido para uma olimpíada e, entre muitas outras coisas, nem teria me tornado esse colunista que vos escreve. Essa é a importância das políticas públicas.
O Brasil é um país que tem muito capital humano, a nossa diversidade e o nosso território de proporções continentais nos permite ter um vasto leque de possibilidades tanto para a pratica esportiva quanto para a criação de políticas públicas em prol do esporte. Precisamos que os governos as façam com qualidade e, principalmente, a longo prazo, pois são essas políticas que mudam vidas e estabelecem uma cultura esportiva no país.
Clubes esportivos são instituições privadas, logo, não necessariamente recebem verba do governo, o que torna extremamente difícil o acesso da população comum. Antigamente, fazer parte de um clube social (que na maioria das vezes é também esportivo) era sinônimo de status para as famílias e portanto limitado a poucas pessoas com excelente condição financeira.
Hoje em dia, o acesso é bem mais democrático, mas em alguns momentos percebo ainda uma certa resistência de alguns gestores a abrirem suas portas. É necessário que façamos a roda girar, ou seja, que os clubes permitam o acesso de jovens e crianças, principalmente de baixa renda, para que haja renovação no seu quadro de atletas e continuem formando novos campeões.
Dito isso, não vejo nem a médio ou longo prazo uma mudança nesse formato de desenvolvimento esportivo no Brasil. Porém, se quisermos pensar em nos tornarmos uma grande potência olímpica, devemos primeiramente alterar esse modelo que é 100% dependente dos clubes. Isso não quer dizer que os clubes façam um trabalho ruim, mas para subirmos de patamar não é o suficiente. Como muitas coisas, acredito que a mudança tem que vir através da educação, das escolas principalmente, mas isso, é assunto para outro texto.