Iniciamos o mês do Outubro Rosa, um mês de conscientização sobre o autoexame e prevenção do câncer de mama. Esse mês trarei aqui na coluna assuntos relacionados a mulheres, mantendo, claro, nossa temática de coisas que permeiam o esporte olímpico. E para abrir o mês, trago um movimento interessante das mulheres nos esportes, que com a reivindicação pela igualdade de premiações tem chamado muita atenção nos últimos anos — o papel do uniforme feminino nos esportes.
Em 2021, durante as Olimpíadas de Tóquio, a notícia de que a equipe da Alemanha de ginástica artística competiu com trajes que cobriam o corpo inteiro me chamou atenção. Não pelas roupas em si, mas pelo fato de que normalizamos as roupas coladas com muitas partes do corpo à mostra sem questionar. As roupas foram escolhidas como forma de protesto contra a sexualização das atletas na ginástica, pois os trajes que são comumente utilizados corroboram com a hiperssexualização e podem ser motivo de desconforto para elas.
Eu sou um praticante de atletismo, esporte o qual as atletas do gênero feminino também usam roupas muito mais curtas que do gênero masculino. Até então, nunca havia refletido sobre o motivo dessa diferença, embora já tenha me questionado, e questionado a colegas se elas se sentem confortáveis usando sunkinis e tops. Em geral, a resposta que tive é que pelo costume, acabam não se importando em usar roupas mais curtas, mas que no início sempre é mais difícil pela insegurança e vergonha. A funcionalidade da roupa, naturalmente, é importante para os atletas, mas no sentido prático, não faz muito sentido tamanha diferenciação para os gêneros.
Segundo Emily Wughalter, professora norte-americana de Educação Física e Fisioterapia, isso ocorre devido à “female apologetic” (compensação feminina). Ao praticar esportes, as atletas estariam apresentando características consideradas “masculinas” pelo imaginário popular, como força e agilidade, produzindo “estereótipos de lesbianismo”. E as roupas mais “femininas” seriam uma forma de compensar essa falta de feminilidade das mulheres durante as práticas esportivas.
Para mim, está claro que a diferenciação dos uniformes é produto do machismo. A função das roupas não é o conforto das mulheres, mas agradar e chamar atenção do público masculino. Um problema grave que dificulta esse debate é que a maioria das confederações — tanto nacionalmente, quanto a nível internacional, são comandadas por homens brancos, ou seja, organizações as quais não há mulheres que possam exercer mudanças significativas e pensadas para mulheres. Por essas razões e por muitas outras é preciso haver diversidade no âmbito de gestão das organizações, temos que colocar mulheres no poder para não haver silenciamento dessas questões. E que possamos combatê-las da melhor forma.
A televisão também tem grande influência na disseminação da hiperssexualização dos uniformes femininos, com todo o aparato de câmeras posicionadas e dando superclose em certas partes dos corpos das atletas durante as transmissões das competições. É uma cultura que temos de combater. Cada vez mais as mulheres devem repensar também se estão de acordo com essa prática e cabe aos homens escutar e apoiar a causa para termos uma voz unificada perante essa situação.
Que nessa questão, utilizemos uma das grandes armas do esporte, que é a união das pessoas em prol de um objetivo. Vamos aproveitar que é Outubro Rosa — um mês voltado para as mulheres — e levantar as diversas bandeiras que precisamos, buscando a igualdade de gênero, o empoderamento feminino e o combate ao machismo