Semana passada escrevi sobre como é importante que atletas se posicionem politicamente, o quão grande é a responsabilidade social que eles carregam e como ainda temos poucas vozes politicamente ativas no Brasil, principalmente em comparação com atletas de outros países.
Para não cansar meus leitores, decidi separar o texto em duas partes e explorar aspectos diferentes. Precisamos entender também o que há por trás desse comportamento dos atletas brasileiros.
Culturalmente, somos um povo que não é tão ativo politicamente. Naturalmente, nossos atletas, que fazem parte da população, acabam não tomando a frente para se pronunciarem e usarem sua voz em favor das pessoas as quais representam, mas isso é um erro. A partir do momento em que nos tornamos atletas, temos de assumir essa responsabilidade com as demais atreladas à profissão.
Além do fator cultural, é importante entendermos o papel dos clubes e organizações que os atletas fazem parte. Em muitos contratos, há clausulas especificas em relação a manifestações politicas e protestos por parte dos atletas, há proibições ou limitações em relação às ações que são permitidas, algo pouco sabido pelo grande público. Não seria mais interessante para essas organizações terem suas estrelas se destacando também como vozes politicas? Independentemente da bandeira a ser levantada?
Nas redes sociais, somos bombardeados com informações e opiniões de todos os lados diariamente. E entendo que pode existir medo por parte dos atletas de sofrerem backlash (reação negativa) por suas opiniões, mas é dessa forma que conseguimos revisitar algumas questões importantes não só para a grande população, mas para o meio esportivo.
Muito se fala em como o esporte não é valorizado no Brasil, mas nós atletas temos de entender em que posição estamos e de que forma nós, como classe, podemos nos posicionar e agir para conseguirmos a valorização. Não é só baixando a cabeça e “fazendo o nosso” que mudaremos essa situação, precisamos falar até que nossa voz seja impossível de ignorar.
E por falar em ignorar, precisamos da cooperação da imprensa para que os atletas se sintam mais confortáveis em dar suas opiniões, precisamos de jornalistas que instiguem, que saiam do padrão de perguntar apenas coisas de dentro do esporte. Nós atletas temos muito a dizer, basta perguntar.
Por meio de entrevistas e matérias acabamos conhecendo vários atletas, mas sempre fico me perguntando “será que os conhecemos mesmo? O quão profundamente sabemos sobre eles?" E digo isso no sentido de essência, muitas vezes acabamos rodeando na superfície, sendo que as características mais profundas são as que mais causam admiração. Às vezes só precisamos de um empurrãozinho (assim como eu tive ao ser convidado para escrever essa coluna).
Claro, não estou dizendo a todos os atletas para escreverem colunas no jornal semanalmente, mas quero que meus companheiros de profissão se permitam mais, que se expressem mais publicamente, que entendam a responsabilidade que é ser um ídolo de alguém.
Ao mesmo tempo, desejo que clubes e organizações deem espaço para seus atletas se expressarem, abram um diálogo com eles e mantenham-se abertos a isso, dessa forma todos saem ganhando.
Entendo que atletas representam clubes e organizações na maior parte do tempo, devendo ser cuidadosos nos seus posicionamentos, mas atletas são cidadãos e devem ter o direito de se expressarem da forma que quiserem, sem restrições.