Se a possibilidade não se mostrar próxima, mire a longo prazo: quem sabe nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2026? Pode ser um bom motivo para conhecer Cortina D'Ampezzo e as Dolomitas, cadeia de montanhas dos Alpes italianos, já que a cidade, junto com Milão, será sede da competição.
A parte mais relevante das Dolomitas fica na província de Belluno, a pouco mais de uma hora de Veneza, e dentro de um parque nacional. Mas as opções de roteiros são muitas — no inverno e no verão —, ainda que você não seja montanhista, esquiador ou adepto de outros esportes de aventura. Além da exuberância natural, você deparará com cenários da Primeira Guerra no Monte Piana, área conhecida como um museu ao ar livre. É bom lembrar que as Dolomitas receberam a chancela de Patrimônio Natural da Humanidade da Unesco em 2009.
A seguir, o trajeto que fiz:
1) Lago del Mis
Antes de subir, mas já dentro do parque, vale uma passadinha para conhecer este espelho d'água artificial, com 1,2 quilômetro quadrado e profundidade máxima de 88 metros, formado a partir de uma represa construída em 1962. Como visitei em época de seca, o nível estava baixo e a água, muito verde. Cercado de montanhas cobertas de vegetação, é um ponto bem "instagramável" do trajeto.
Perto, merecem paradas, ainda que rápidas, a Torrente Mis, pequena cachoeira que corre dentro de pedras, e o Lago di Alleghe, já na subida para as montanhas.
2) Paso Giau
Conecta Cortina d'Ampezzo com Colle Santa Lucia e Selva di Cadore. No refúgio a 2.236 metros de altitude, onde há estacionamento, restaurante e uma capela, você terá uma vista extraordinária das montanhas, incluindo o mais alto pico, a Marmolada, com 3343 metros de altitude e palco de uma tragédia em julho de 2022, quando o desabamento de um bloco de gelo matou sete alpinistas. Prepare-se para o frio, mesmo no verão, e suba as escadarias que levam ao sopé do Monte La Gusella, da cadeia Nuvolao, a partir do refúgio, para ter uma vista ainda mais abrangente. Meus companheiros de viagem dizem que experimentaram ali um dos melhores apfelstrudel — é grande a influência da Áustria na gastronomia nesta quase fronteira. É preciso dizer que não provei a torta porque dali a alguns minutos faríamos um piquenique numa área própria e era preciso reservar espaço no estômago, já que nos olhos e nas câmeras não haveria mais lugar para os registros dessa paisagem inebriante.
3) Cortina D'Ampezzo
Se você preferir um cenário um pouco mais urbano, ainda que cercado de montanhas, esta cidade de pouco mais de 6 mil habitantes é perfeita. Junto com Milão, Cortina sediará os Jogos Olímpicos de Inverno pela segunda vez, em 2026, depois de ter abrigado a competição em 1956, quando foi construído o Estádio de Gelo, que pode ser visitado para patinar. Caso alugue um carro do aeroporto mais próximo — Veneza ou Treviso, a duas horas dali— prepare-se para uma viagem longa, apesar da pouca distância. É que não bastassem as curvas sinuosas, você vai querer parar a cada momento para fotografar. As principais atrações são a natureza e o entorno de Cortina, com 400 quilômetros de trilhas para caminhadas. Ela é também famosa pela sua rua de compras (o Corso Italia, via só para pedestres) e com museus variados — de arte moderna, paleontológico e etnográfico. Ou seja, se o seu barato não for esquiar ou praticar outros esportes de montanha — a temporada de inverno vai do início de dezembro, quando abrem as estações de esqui, e termina após a Páscoa —, entediado não ficará nesta cidade que é o principal destino de montanha da Itália e acumula 150 anos de experiência com turismo.
4) Lago Misurina
Esse já virou um clássico meu no norte da Itália e já o vi em várias estações: congelado, cheio demais, com pouca água, mas desta vez talvez tenha sido a mais bonita. Sim, o lago é o mesmo, não mudou de lugar. Mas é que cheguei ao pôr do sol, e ver as montanhas refletidas na água — as mais famosas são as Tre Cime di Lavaredo — causou uma outra sensação. Ele é um dos maiores lagos alpinos, tem extensão de 2,6 quilômetros, profundidade média de 5 metros e fica a 1756 metros de altitude, conhecido como "a pérola das Dolomitas". Em seu entorno há hotéis, restaurantes, lojas de suvenires. Se quiser levar consigo um pouco das fragrâncias da região, no Bar Souvenir Tre Cime, lojinha típica de lembranças, você pode encontrar os produtos da Bonel Misurina, cosméticos naturais com essências locais. No passado, toda essa área era destinada para cura de doenças respiratórias e até hoje há um centro ali para tratar de problemas de saúde, vez que outra ameaçado de fechamento.
De onde vem o nome
O termo Dolomitas é uma homenagem ao mineralogista francês Déodat Gratet de Dolomieu, responsável por descrever a rocha dolomita, mineral que mescla carbonato de cálcio e magnésio. É ela que dá uma cor pálida a essas montanhas que, em determinadas épocas do ano, ganham uma coloração rosada no amanhecer e ao entardecer, originando várias lendas e o termo "enrosadira" — tornar-se rosa, no idioma local, o ladino dolomítico.