Balões, em Torres, há o ano inteiro. Mas, por alguns dias, no final deste mês, eles se multiplicam e colorem o céu. Para o 33º Festival Internacional de Balonismo, a cidade do Litoral Norte espera receber entre 50 e 70 balões e milhares de visitantes ao longo de cinco dias.
Em terra também há bastante para ver, avisa o secretário de Turismo Sotério Júnior, um jovem de 28 anos que "foi guri que correu atrás de balão", já fez pelo menos meia dúzia de voos, participou de equipes de terra e entusiasma-se por estar pela primeira vez à frente do evento. Há, conta ele, seis grandes shows programados, além de uma apresentação, no dia 28, da Esquadrilha da Fumaça. Sem contar a feira que reúne agricultores e outras atrações para os turistas.
Todos os dias, antes de os balões decolarem — no início da manhã, no final da tarde e, inclusive, à noite, num espetáculo chamado Nigth Glow —, uma comissão técnica fica atenta às condições meteorológicas e é preciso contar com a ajuda de São Pedro para os voos ocorrerem.
Trata-se de um dos principais eventos de Torres, só rivalizando com o Réveillon. Pilotos de balão vêm do Brasil inteiro, do Uruguai e da Argentina. Até o início de abril, 80% dos 5 mil leitos de Torres estavam reservados, um termômetro do sucesso do festival.
— Conseguimos esticar a temporada, movimentar hotéis e restaurantes — comemora o secretário.
Para os pilotos, há nove modalidades de provas, incluindo uma em que o balonista tenta alcançar a chave de um carro zero quilômetro presa a um mastro de 10 metros de altura. Dia e horário das provas dependem das condições climáticas, com reuniões prévias entre organização e pilotos dando o veredito.
Só em Torres, hoje, há 38 pilotos, seis empresas cadastradas e pelo menos 50 balões. Eles têm de ser registrados na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), assim como os pilotos, que obtêm o brevê após 16 horas de voo com instrutor e uma bateria de exames, prova prática e escrita feita pela Confederação Brasileira de Balonismo.
— É um esporte cada vez mais profissional, e o festival mostra que ele está forte no Brasil. No Estado, sua história é traçada por Torres. Servimos de inspiração para vizinhos como Praia Grande (SC), onde muitos dos pilotos daqui atuam, e outras cidades. O público adora voar entre o mar, a lagoa e os cânions — diz Sotério Júnior.
Mas, é bom ter consciência de que o festival é mais para ver do que para viver a experiência. Até por questões de segurança, o número de voos para o público é limitado. Será difícil, porém, depois de ver o céu pontilhado por balões, não querer voltar para vivenciar a aventura. É nisso que o turismo de Torres aposta.
Programe-se
- O Festival Internacional de Balonismo vai de 27 de abril a 1º de maio, em Torres.
- Apresentação da Esquadrilha da Fumaça no dia 28, sexta-feira, às 15h30min.
- Informações torres.rs.gov.br/festival-de-balonismo
Meu primeiro voo
Já andei em aviões muito pequenos e em ultraleves, mas minha estreia em um balão de ar quente só aconteceu dias atrás, num domingo de céu azul e pouco vento. O desejo por viver a aventura, porém, existia há muito, desde que, criança, assisti ao clássico filme A Volta ao Mundo em 80 Dias (1956), (re)alimentado depois por Up: Altas Aventuras (2009) e, mais recentemente, por Os Aeronautas (2019).
Parecia mesmo um filme aquele amanhecer de horizonte rosado em Praia Grande (SC), com os "envelopes" coloridos dos balões esparramados pelo chão, sendo enchidos por grandes ventoinhas e, depois, pelos maçaricos. Achei auspicioso o meu balão se chamar Zeus, o deus dos céus — além de escolher uma empresa credenciada e um piloto qualificado, a ajuda divina é bem-vinda. Entrar na cesta de vime, uma pequena ginástica para minhas pernas curtas, significou também uma viagem no tempo, dos meus sonhos e da história da aviação. A subida— com vento de 4km/h, informava o piloto — foi tão suave que nem senti. O frio da manhã amenizou-se com a roupa adequada e o calor da chama do maçarico, acesa de tempo em tempo para nos manter no ar. Um voo tão tranquilo e uma paisagem tão inebriante — os cânions de um lado e a planície litorânea de outro — que nem percebi os mais de 1.100 metros de altitude e os 52 minutos de viagem. Pousamos num potreiro molhado pelo orvalho, observados pelo olhar desconfiado do gado nelore.
Um sonho de infância realizado sem solavancos.
O mundo visto de cima
Há lugares emblemáticos para turistas observarem do alto de um balão:
- Torres, Praia Grande e Boituva (Brasil)
- Capadócia (Turquia)
- Luxor (Egito)
- Masai Mara (Quênia)
- Napa Valley e Albuquerque (EUA)
- Outback (Austrália)
- Parque Serengeti (Tanzânia)
- Queenstown (Nova Zelândia)
- Região da Ístria (Croácia)
- Siem Reap (Camboja)
- Vale do Loire (França)
Curiosidades
— A primeira tentativa documentada de um voo de balão foi de um brasileiro: o padre Bartolomeu de Gusmão (1685-1724). Em 1709, ele apresentou sua invenção à Corte do Rei D. João V, em Lisboa. Na primeira tentativa, o balão de pequenas dimensões incendiou-se no Palácio Real, gerando pânico. Na segunda, o balão conseguiu subir quatro metros, mas teria sido destruído por medo de que provocasse um acidente. Na quinta vez, o balão subiu até o teto, ali se demorando, e desceu com suavidade.
— Um galo, uma ovelha e um pato estavam em um dos primeiros voos de balão tripulados de que se tem notícia, em 1783, na França. Cobaias para testar os efeitos da altitude em seres vivos, voaram por oito minutos a 450 metros de altura por quase três quilômetros e voltaram ilesos, o que encorajou os primeiros pilotos.
— Napoleão Bonaparte usava balões para observar a movimentação na retaguarda do inimigo e estudar o terreno da batalha e criou o primeiro Corpo Militar de Balões.
— A aerofotografia nasceu a partir do feito do fotógrafo Félix Nadar que, em 1858, tirou a primeira fotografia aérea de Paris a bordo de um balão.
— A tradição do champanhe após o voo surgiu na França para amenizar conflitos entre baloeiros e fazendeiros que não gostavam de ver os balões pousarem em suas plantações. Compartilhar taças de champanhe tornava os pousos em terra alheia um ato diplomático.
Fonte: Blog do Balonismo