Tenho para mim que por mais experiente ou "viajada" que a pessoa seja, por mais vezes que tenha estado naquele destino ou por mais informações que reúna do lugar a conhecer, o bom é que o olhar não esteja viciado, que seja sempre como se fosse a primeira vez, mantendo o olhar estrangeiro e todos os sentidos atentos.
Mas a primeira viagem ao Exterior desses tempos pandêmicos exacerbou tudo isso. Era como se nunca tivesse pisado em aeroporto, feito check-in, passado por sistemas de segurança ou serviços de imigração. A incerteza e a insegurança, o temor de não carregar todos os documentos, o medo de uma eventual contaminação - ainda que vacinada, usando máscara e álcool gel o tempo inteiro - se encarregaram de dar à última viagem também a sensação de ser a primeira.
A passagem para a Holanda, para visitar familiares após dois anos de distância, já havia sofrido algumas alterações, as exigências e protocolos mudado outras tantas e, apesar do meu nervosismo, Nossa Senhora da Boa Viagem e todos os outros santos e orixás sempre me acompanham: eu embarcaria no dia 4 de setembro para Amsterdã via Lisboa e, a partir do dia 1º, Portugal abriu as fronteiras para os brasileiros; a Holanda o faria a partir do dia 4.
Atenção! Este não é um texto de serviço: é praticamente impossível dar orientações seguras se a viagem for no mês que vem, na próxima semana ou mesmo amanhã. Nos 20 e poucos dias em que estive viajando, muitas regras mudaram. É apenas uma crônica de uma viajante que sofria de abstinência da estrada, mas só partiu movida pela saudade.
Cheguei ao aeroporto carregada de documentos, além dos tradicionais passaporte e tickets:
Ainda no aeroporto de Porto Alegre, o empregado da companhia aérea fez um questionário que não se repetiria depois, talvez por as novas regras serem muito recentes. Mas resultado de PCR e formulários, esses, sim, me seguiriam o tempo todo.
Vi de tudo nos quatro aeroportos pelos quais passei: de organização de filas rigorosas e distância adequada à bagunça total, da checagem e rechecagem de documentos que irritavam passageiros menos compreensivos à reclamação pelo preço cobrado pelos testes (ouvi de um viajante que chegou a pagar 200 euros por um deles)... Não sei se era por não viajar há mais de um ano e meio, mas achei os voos mais silenciosos, ainda que em aviões totalmente lotados. Será só o uso da máscara? Os avisos constantes para manter a proteção sobre a boca e o nariz e a ausência de serviço de bordo nos voos mais curtos também contribuem.
Uma vez no meu destino, a capital holandesa, ainda que a obrigatoriedade da máscara fosse restrita ao transporte público, tive dificuldade em desapegar da minha, mesmo ao ar livre. Nos primeiros dias, até fazer um novo teste, praticamente só visitei parques e jardins (maravilhosos, aliás!). Em ambientes fechados, como nos poucos museus a que fui, era, em geral, a única a utilizar máscara. Não me importava com os olhares, me sentia mais segura assim. Aos poucos, a tensão diminuiu, embora mantivesse os cuidados.
Há avisos para o distanciamento por todo lado, álcool gel disponível em toda parte e o incentivo à vacinação se traduziu numa alteração importante no dia anterior ao meu retorno: a limitação de ocupantes seria excluída nos ambientes fechados como bares, restaurantes e museus, mas as pessoas teriam de apresentar testes negativos realizados no mesmo dia ou certificado de vacinação emitido pela União Europeia, algo permitido apenas aos residentes. Ah, e os testes, antes gratuitos, passariam a ser cobrados a partir de 1º de outubro. Uma forma de incentivar os holandeses a se vacinarem no país que demorou para deslanchar na imunização mas que, em 26 de setembro, tinha 86,3% da população acima de 18 anos com uma dose aplicada e 82,4% com duas.
Entre as mudanças mais evidentes para um visitante, causadas pela pandemia, estão o reforço no autosserviço em lojas e supermercados, os QRCodes substituindo cardápios e informações em locais públicos, o uso apenas de cartões de débito ou crédito na maioria dos lugares ou de máquinas que recebem o dinheiro e dão o troco automaticamente, sem necessidade de toque nas notas por parte do atendente. São detalhes que vinham sendo percebidos lentamente, mas que se aceleraram agora.
Ainda que a mobilidade tenha se reduzido (além de cidades próximas de Amsterdã, só passei um final de semana em uma cidade da Bélgica, em viagem feita de carro), o saldo foi positivo: reduzi a abstinência de viagem, mas, principalmente, matei a saudade.
P.S.: o que eu fiquei me perguntando na volta, ao desfazer a mala, era por que raios eu tinha carregado tantas máscaras na bagagem. Entre descartáveis e reutilizáveis, poderia ter passado uns seis meses por lá.
Agenda
- Oktoberfest - Nesta 36ª edição da festa de Santa Cruz do Sul, de 7 a 12 e de 15 a 17 de outubro, os desfiles serão dentro do Parque da Oktoberfest. Para quem desfila, a exigência é ter as duas doses da vacina e traje típico completo. Já quem assiste acompanhará sentado a passagem do cortejo que se inicia no portão ao lado dos Bombeiros e atravessa até o Portão 7, para abranger todas as áreas da gastronomia. O primeiro desfile será na abertura, dia 7, às 20h.
- Festuris - Na 33ª edição do evento, no Serra Park, em Gramado, de 4 a 7 de novembro, alguns dos destaques serão ecoturismo, sustentabilidade, turismo rural e turismo de natureza, no Espaço Green & Experience. Já as palestras, que debaterão a Era da Transformação, terão convidados como John Rodgerson, presidente da Azul Linhas Aéreas, José Galló, CEO das Lojas Renner, e Álvaro Garnero, embaixador do Turismo brasileiro. Mais informações em festurisgramado.com
Dia Mundial do Turismo
Foi bacana o jeito que a Secretaria de Turismo do RS encontrou para celebrar o Dia Mundial do Turismo, no último dia 27. No encontro "Todos a bordo", em três passeios distintos pelo Guaíba, na Capital, gente da área discutiu a retomada, as possibilidades e os desafios do turismo, especialmente no mercado gaúcho. Foi um dia de debate e capacitação, mas também uma grande celebração para o setor, um dos mais atingidos pela pandemia.