Você já deve ter ouvido por aí o termo “glamping” (glamour + camping). Longe do acampamento raiz, aquele em que cada um carrega sua barraca e leva quase toda a parafernália de que precisa, nos empreendimentos do gênero glamping o hóspede se esbalda como se estivesse em um hotel (com cama confortável, banheiro privativo, chuveiro quente), mas se embrenha na natureza e na sensação de acampar. Embora os acampamentos luxuosos remontem pelo menos ao século 16, o termo surgiu no Reino Unido há não muito tempo (em 2016, entrou no Dicionário Inglês de Oxford), nos EUA se popularizou no interior dos parques nacionais e, na África, nas áreas dos safáris turísticos. Mas vamos ao que interessa: no Rio Grande do Sul, há pelo menos quatro instalações — duas consolidadas e duas às vésperas da inauguração — do tipo glamping para experimentar.
Divisa Experience Resort
(@divisaexperienceresort), São Francisco de Paula
É um grande canteiro de obras o que se vê do alto no terreno em que se esparrama o Divisa, junto ao lago do mesmo nome, a 20 quilômetros de São Chico. O lugar já existia com 12 unidades e conceito de hotel, mas os R$ 35 milhões investidos, segundo Osvaldo Julio Neto, diretor de Operações da Aros Hotéis e Resorts, vão produzir muito mais do que uma reforma quando estiver tudo pronto, em dezembro. No total, serão 45 unidades, e os bangalôs construídos com a ideia de glamping terão 45 metros quadrados e atrativos para a alegria dos hóspedes: o teto envidraçado para observar o céu será um deles.
Outras construções curiosas brotam no terreno: pipas gigantes, compradas de vinícolas da Serra e com áreas entre 38 e 49 metros quadrados, abrigarão algumas das novas unidades e terão, além da decoração típica, hidromassagem externa e a promessa de uma sensação.
— O hóspede poderá conhecer a história de cada pipa através de QR Code onde contaremos como eram feitos os vinhos antigamente. O perfume impregnado nas madeiras remete a um dia de vindima — compara Osvaldo.
Alimentação
Haverá ainda quatro operações gastronômicas: a principal, o Galpão Crioulo, com fogo de chão, culinária gaúcha e sistema all inclusive; o Bass Club, com chá da tarde inglês e fondue de queijos elaborados na própria fazenda; o Divisa Pool Bar, com petiscos para atender a quem estiver nas piscinas (um complexo com opção indoor e externa, borda infinita, prainha, cascatas e vista para o lago) e nas áreas de lazer; por fim, a Taberna Hobbit, incrustada na montanha, será o lugar da gastronomia de campo e caça, onde os convidados prepararão os pratos com o chef.
Toda essa estrutura deve movimentar o mercado de trabalho da região: serão 70 novas contratações e mais 40 indiretas, avalia o diretor de Operações. Ah, e o nome mudou de Divisa Eco Lodge para Divisa Experience Resort para transmitir a mudança do conceito, explica o diretor de Marketing, João Fernando Biancardi:
— Vai manter a estrutura de fazenda, mas ampliar a ideia de uma experiência completa.
Esphera Glamping
(@espheraglamping), em Gravataí
A apenas meia hora de Porto Alegre, o médico oncologista André Brunetto, 43 anos, e sua esposa, a fisioterapeuta Roberta Velasco, 39, preparam-se para inaugurar o Esphera. Começam com quatro cabanas, no formato “domo geodésico”, mas devem chegar a 10. A ideia de conexão com a natureza que imaginam para os hóspedes André e Roberta passaram a vivenciar com a família durante a pandemia (eles têm dois filhos, de cinco e oito anos): venderam a casa na Capital e se transferiram para o sítio que já existia no terreno de 20 hectares, reduziram as atividades na cidade, transferiram os filhos de escola. Imaginaram, para o seu glamping, oferecer um serviço completo, mas incentivando a participação ativa do hóspede. Querem algo sofisticado, mas que aproxime as pessoas.
— Acreditamos que tem muito público para isso. A estrutura que vamos oferecer, do domo, está em alta: é sustentável e tem uma série de benefícios térmicos e acústicos — diz André, que conta que as estruturas estão sendo montadas a várias mãos, já que o material importado é caro e o nacional, ainda incipiente (o fato de ele ter cursado dois anos de Arquitetura, ajuda, assim como o gosto por decoração de Roberta).
Além da hospedagem, esperam implantar um sistema de day use, para quem quiser uma fuga da Capital e, num pedaço da área, permitirão aos campistas levar as próprias barracas. Pensam ainda em aliar tudo isso a churrasco com fogo de chão. Em lugar de restaurante, farão parcerias com empreendedores locais, assim como para manter um armazém e fornecer as cestas de café da manhã. E ter muitas atividades, como beach tênis, canoagem, quadriciclo, interação com animais.
— Queremos que a experiência seja especial, que aquele que vier não seja só um hóspede. Para nós não será só um negócio, queremos nos divertir junto, colocando nossa energia num lugar em que queremos estar — conceitua André.
Ah! O nome Esphera tem relação com o formato das barracas e da palavra atmosfera em inglês (atmosphere) — a ideia é ter bancos, monumentos e até uma parrilla gigante em formato de esfera.
Parador
(@paradorcambaradosul), Cambará do Sul
A proposta do Parador talvez possa ser apontada como pioneira no conceito de glamping no Estado. Ele já nasceu com barracas fincadas no meio de paisagem deslumbrante, em 2001, a nove quilômetros de Cambará do Sul. Só dois chalés (o Lavanda e o Verbena) fogem às características.
Os demais, diz Rafael Peccin, diretor de Marketing do Casa Hotéis, se enquadram como glamping: são mais 26 unidades, considerando as categorias barraca luxo, barraca suíte, bangalôs, e, as mais recentes acomodações, os casulos — barracas térmicas inauguradas este ano.
— Procuramos estar na vanguarda para oferecer experiência única aos hóspedes. O Parador nasceu com o conceito de hospedagem em lugares exclusivos — detalha Peccin.
A ideia do Parador, 20 anos atrás, surgiu depois da viagem de um membro da família ao Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia (EUA). A inspiração seguiu com os lodges africanos, com barracas isoladas umas das outras, sem abrir mão do conforto e dos serviços de hotel de alto padrão. Quem conhece o Parador, garante Peccin, costuma voltar:
— Se tornou hospedagem de desejo, um destino para curtir e relaxar em meio à natureza.
Parece simples para quem vê, mas não é tanto para quem tem de preservar a estrutura funcionando o ano inteiro. O desafio é manter a qualidade constante em um local tão isolado e vulnerável a climas extremos.
Entre os hóspedes, há os que vão para explorar a região e conhecer os cânions, os que só querem relaxar e se isolar, os casais apaixonados que buscam experiências para viver a dois e os que procuram aventura, das trilhas ao balonismo. Sem contar as experiências com a culinária gaúcha.
A expectativa, com a concessão dos parques da região à iniciativa privada, é de que o acesso seja asfaltado. Será, acredita Rafael Peccin, uma nova página para a história do turismo na região.
Tedesco Eco Park
(@tedescoecopark), São Francisco de Paula
Se perguntar a João Antônio Tedesco, que cuida da estratégia e do marketing do Tedesco Eco Park, o que é oferecido na área de 35 hectares onde ficam as 22 tendas instaladas há três anos a 20 quilômetros do centro de São Chico, ele responde assim:
— O Eco Park vende felicidade. É aquele momento que você não quer que termine nunca e, quando termina, já quer repetir.
E, se já não bastava a estrutura que tem agora — restaurante, caiaque, quadriciclo, bike, cavalo, passeio de barco, trilhas —, a próxima etapa é inaugurar um spa, além de três novas tendas. Entre o público que procura o sossego à beira do lago da Barragem Divisa, sob a floresta de pinus, estão casais comemorando datas especiais e famílias com crianças, que se fartam nas atividades com recreacionistas.
Foi de João Antônio a ideia para que os filhos e o irmão investissem em algo do gênero quando a área foi comprada, cinco anos atrás.
O que ele acha diferente de outras experiências é o fato de as tendas estarem sob as árvores, além de a estrutura ir surgindo aos poucos, o que facilita o feedback dos visitantes e as melhorias quase em tempo real. Ele mesmo foi dando forma à própria imaginação, lembrando dos filmes de Tarzan ou dos com tendas árabes no deserto. Outro tanto de realidade foi acrescentado do que a família viu em viagens.
Como o terreno tinha muitas ondulações, as tendas tiveram de ser erguidas sobre decks. A ideia geral é a desconexão do mundo urbano, da arquitetura ao convívio.
— Não há quem não goste de acampar. Acrescentamos o conforto e atividades para todas idades. As pessoas ficam juntas, pais dormem no mesmo ambiente que os filhos e conversam até adormecer — conta João Antônio.