Se você for ao Museu de História Natural Smithsonian, em Washington, ou ao prédio da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, poderá apreciar minerais extraídos no Rio Grande do Sul. Mas não é preciso ir tão longe para apreciar as pedras que brilham aos olhos de visitantes do mundo inteiro. Um passeio a Ametista do Sul, que carrega um desses minerais do nome, pode mostrar muito mais, da extração ao seu uso mais prosaico.
A cidade do norte gaúcho, a quase 440 quilômetros de Porto Alegre, tem pelo menos 15 lojas, galerias e fábricas dedicadas ao tema. Mas quase tudo gera em torno das pedras, da igreja matriz ao café temático, passando pela vinícola que armazena centenas de garrafas em túneis subterrâneos, construídos a partir dos anos 1970. A mineração representa 70% da economia.
Assim como houve a transição da agricultura para a mineração, nos anos 1930/1940, o turismo vem aos poucos ocupando espaço nos negócios locais, explica Fábio dos Santos, secretário de Indústria, Comércio, Mineração e Turismo. É que, segundo ele, estimativas apontam para um esgotamento das 130 jazidas no máximo em 40 anos.
— Os empreendedores perceberam que este é o futuro e estão apostando, explorando as jazidas subterrâneas que estão esgotadas. É uma virada. Achamos que em 10 anos o turismo superará a mineração — diz Fábio, estudante de Administração que ocupa pela segunda vez o cargo de secretário.
Não é de agora que começaram os investimentos. A primeira Expopedras, feira internacional ocorrida em 1998, é considerada um marco para o turismo. Duas décadas depois, em 2019, Ametista recebeu 110 mil visitantes. Não é pouco para uma cidade de pouco mais de 7 mil habitantes. Em 2020, como se sabe, tudo parou, e a queda de turistas foi de 60%. Em 2021, entre janeiro e julho, mesmo com as restrições, chegaram 55 mil visitantes, segundo as estimativas. Só que agora não mais em ônibus e excursões, mas em pequenos grupos de amigos e famílias, em motos, carros e trailers.
— Esperamos que, com a vacinação, melhore, confirmando a expectativa do crescimento do turismo doméstico — aposta Fábio, confiando na visibilidade das atrações regionais com a crise do coronavírus.
A comunidade se prepara com novidades: junto à igreja, está em construção uma torre de 60 metros de altura, com elevador panorâmico e mirante coberto com uma pirâmide lapidada; uma iniciativa privada abrirá um parque zoológico e outro empreendimento prepara a abertura de um hotel subterrâneo (leia mais no texto a seguir).
Um hotel sob a terra
A família Cadena é um bom exemplo de como está se dando a transição da mineração para o turismo. Os proprietários do complexo Belvedere Mina primeiro trabalharam como garimpeiros, depois na industrialização para venda e exportação e, nos últimos anos, entraram no ramo do turismo. Começou com os irmãos Emerson, Flávio e Jussemar _ este último, uma das vítimas do coronavírus, falecido em junho _, mas agora envolve filhos, esposas e uma equipe que varia entre 50 e 60 pessoas. Entre eles está
Everson Cadena, 20 anos, filho de Emerson, que auxilia na administração do complexo. Primeiro, conta Everson, veio o restaurante subterrâneo, em 2018, numa mina desativada havia 20 anos. A percepção do potencial trouxe as piscinas (aquecidas a 30ºC, já que a temperatura média da mina é de 18ºC), o museu com minerais gigantes (alguns com oito toneladas), o tour por uma mina em atividade acompanhado por um garimpeiro, o café, a loja de chocolates e, na área externa com oito hectares, as cabanas para hospedagem, a tirolesa, o kart, o passeio de buggie. Para entrar, o turista paga uma taxa de R$ 15. Os passeios são cobrados à parte.
A grande novidade deve ser o hotel gestado no subterrâneo do Belvedere Mina, com 15 apartamentos com banheiras de hidromassagem e que deve ficar pronto entre agosto e setembro de 2022. O resto da estrutura toda já existe e poderá ser utilizada pelos hóspedes. Quando a pandemia passar, estará tudo pronto.
Outras atrações
- Ametista Parque Museu - Com acervo de 2 mil pedras raras, oferece passeio por galerias subterrâneas onde é mostrado o processo de origem e extração das pedras. Tem microcervejaria, tirolesa, mirante e loja temática.
- Centro de Mineralogia - Reúne minerais encontrados em diversas partes do mundo, catalogados de acordo com sua origem, ocorrência na natureza, fórmula química e principais usos na indústria e cultura popular.
- Igreja São Gabriel - Quarenta toneladas de pedras revestem seu interior desde 2008. A pia batismal, formada por um único geodo, pesa 500 quilos. O jardim do entorno tem mais de 500 variedades de flores e árvores.
- Museu do Bambu - Acervo com peças produzidas em bambu como relógios, instrumentos musicais e bicicleta. Há peças de artesãos do RS, de outros Estados e do Exterior.
- Galeria Capra - Tem exposição de geodos de ametista e oferece experiências como um tour 360º com "realidade aumentada", além de comércio de gemas e joias.
- Pirâmide esotérica - Em frente à igreja, é local para meditação, com minerais em suas paredes internas.
Onde ficar
Ametista do Sul tem 260 vagas em hotéis e surgirão mais cem em breve. Cida des vizinhas, como Frederico Westphalen e Iraí, podem servir de base para as visitas.
"Distrito Mineiro"
Os professores Lauren da Cunha Duarte e Pedro Luiz Juchem, do Laboratório de Gemologia/Departamento de Mineralogia e Petrologia do Instituto de Geociências da UFRGS, explicam a incidência da ametista na região:
"O Distrito Mineiro de Ametista do Sul, que contempla o município de Ametista do Sul e algumas cidades vizinhas, é o maior produtor brasileiro de ametista e um dos maiores do mundo. Existem outras regiões promissoras, tal como a Fronteira Oeste, conforme relatório da CPRM (serviço geológico do Brasil), bem como a região entre Soledade e Progresso, onde começou a extração desse bem mineral no RS no século 19. A concentração de depósitos de um determinado bem mineral em uma região é o que a torna um Distrito Mineiro, e a ocorrência deste bem mineral com teores elevados é que tornam uma jazida diferente das demais ocorrências. Existem inúmeras ocorrências, tanto no Brasil como em outros países, mas a diferença está em ser viável economicamente a retirada do minério e também no volume que é produzido."