Que tal sair de Porto Alegre sem sair de Porto Alegre? Já devo ter feito essa proposta outras vezes, mas agora o mote é esta série de dois textos sobre turismo rural (o primeiro saiu na semana passada). É que Porto Alegre, para quem não sabe, tem uma das maiores áreas rurais entre as capitais, cerca de 8 mil hectares (16% do território), mais de mil famílias envolvidas na produção agropecuária e 729 propriedades rurais, conforme a prefeitura. Pelo menos 14 delas integram os Caminhos Rurais, roteiro turístico criado em 2005. Basta ir em direção à Zona Sul e seguir as indicações.
Tem um pouco de tudo na rota: sítio com animais, passeios a cavalo, agricultura agroecológica, piquenique, cervejaria, plantas ornamentais... Não é complicado percorrer o roteiro, mas o acesso ainda é uma dificuldade, já que muitos locais ficam em estradas de chão batido.
— É um antigo pedido nosso. Sem manutenção, quando chove, fica muito ruim — diz Mauri Webber, 65 anos, entusiasta do roteiro e proprietário do Sítio do Mato.
Mesmo assim, a procura de porto-alegrenses pelos pontos abertos - alguns permanecem fechados, por conta da pandemia, ou se preparam para reabrir - garantiu o sustento das propriedades, com adaptações. A Cabanha La Paloma reforçou as atividades ao ar livre e o piquenique que já serve há dois anos; na Cabanha Costa do Cerro, cada um pode levar o seu cesto e desfrutar da paisagem; o Sítio do Mato também acrescentou piquenique às suas atrações, assim como a Granja Lia, da família de Isabel Cristina da Cruz Pacheco, 61 anos, que irá assumir a presidência da Associação Porto Alegre Rural, criada em 2005 para fomentar o roteiro.
— É o que as pessoas estão buscando, áreas abertas e piqueniques — diz Isabel.
Não percorri todos os pontos dos Caminhos Rurais, mas num sábado ensolarado de agosto visitei duas propriedades: o Sítio do Mato e o Rossatto Garden Center. É por isso que a descrição dos dois está mais longa. E anotei na agenda para percorrer o resto.
Atenção: consulte e agende (endereços e telefones em caminhosrurais.com.br).
- Sítio do Mato (Belém Velho)
Talvez em setembro sejam retomadas as visitas de escolas, o forte do Sítio do Mato, sempre envolvido em atividades pedagógicas. Mesmo assim, permanecerão os piqueniques, criados na pandemia. Foi a minha opção. Você é recepcionado por Mauri Webber e sua vitalidade. Ele dá as orientações sanitárias e entrega uma toalha de piquenique: cada grupo ocupa um espaço delimitado por bandeirinhas de chita, mesas e bancos rústicos. Também em pequenos grupos se pode fazer a visita aos animais, com a orientação do Giovani, um estudante de Educação Física que parece formado em Veterinária. Há marrecos, galinhas, pombas, cabritos. Alguns bem exóticos, outros acolhidos no sítio após maus-tratos. Com sorte, se consegue ver um bugio entre as árvores. No piquenique tem suco, geleia, pastinhas, pão, bolo, biscoitos e um pastelão. Só o cheiro do pão assado ali já valeria. O acesso custa R$ 25 por pessoa; a cesta de piquenique, que serve bem duas pessoas, R$ 65. - Rossatto Garden Center (Belém Novo)
Mesmo que eu não precise comprar uma mudinha de tempero ou uma planta nova para a casa, sou fã de floriculturas, pequenos respiros na cidade. Como eu não conhecia a Rossatto, após o piquenique no Sítio do Mato, percorri mais uma meia hora, entre estrada de chão e asfalto, até chegar a Belém Novo. É um espaço gigante, em que se pode circular e observar as plantas, identificadas pelos nomes. Numa pipa estrategicamente colocada no terreno, há venda de vinhos e espumantes. Abre de segunda a sábado. - Granja Lia (Lami)
A propriedade tocada por Isabel Pacheco e o marido recebe pequenos eventos como aniversários em família e oferece piqueniques. Tem trilha, vôlei, cancha de bocha, passeio de carretão e, na época dos cítricos, promove colhe-pague. - Cabanha Costa do Cerro (Lami)
Aqui a ideia é a interação com os animais, incluindo ovelhas, terneiros, cavalos e aves silvestres. Se quiser, você pode levar seu piquenique. O local tem aberto para ensaios fotográficos. O acesso custa R$ 20 por pessoa e a hora a cavalo sai por R$ 80. - Cabanha La Paloma (Lajeado)
Tem trilha, passeio a cavalo e piquenique um "minicafé colonial" que vem com almofadas e toalha, a R$ 180, para três pessoas. Em outubro, abrigará o primeiro casamento adaptado aos protocolos com novidade: uma carruagem. Não cobra pelo acesso, mas por atividade. - Sítio Canto Rural (Lami)
O café rural, com pães e bolos, é servido em mesas ao ar livre, com número reduzido de pessoas. Visitantes são divididos em dois grupos e, enquanto um faz a trilha lúdica, o outro visita os animais. As atividades vão das 14h30min às 18h, aos sábados, domingos e feriados. - Serra da Extrema (Lami)
Recebe, em qualquer dia da semana, grupos de no mínimo quatro pessoas (o acesso custa R$ 30 por pessoa). Tem trilhas e dois mirantes para o Guaíba. Não oferece alimentação, mas um galpão está sendo finalizado para isso. - Sítio Santa Fé (Lajeado)
Em qualquer dia ou horário, com agendamento prévio, oferece almoço, café ou piquenique. Tem horta e pomares ecológicos e criação de galinhas, patos e vaca leiteira. Número mínimo de visitantes é de 10 pessoas e o máximo, de 25. O valor é de R$ 60 por pessoa. - Sítio Capororoca (Lami)
Conhecido pela produção agroecológica e, agora, também pela cerveja artesanal. Deve reabrir em setembro. Os produtos estão nas feiras da Tristeza e do Bom Fim. - Haras Cambará (Lami)
Sem previsão de reabertura, só está alugando os espaços. O antigo haras transformado em uma casa de fazenda costuma oferecer estrutura para eventos. - Fazendinha (Lami)
Está se preparando para a reabertura. Aqui a ideia é o contato com a cultura gaúcha. Oferece vivências na natureza com caminhadas e experiências com animais. - Granja Santantonio (Lami)
Sem previsão para reabertura, tem produção de hortaliças e frutas com um manejo agroecológica. Costuma oferecer atividades pedagógicas sobre solo, irrigação e plantio. - Sítio Dom Guilherme (Vila Nova)
Voltado ao turismo pedagógico, normalmente oferece trilhas orientadas, mostra práticas de cultivo, oferece lanche e produtos caseiros para venda no local.
Porto Alegre Rural
Em setembro, a campanha "Porto Alegre Rural, destinos e encantos" tratará de divulgar os Caminhos Rurais. Uma websérie retratará nove das 14 propriedades que já aderiram ao Passaporte Turista Cidadão, projeto da Emater para o turismo de proximidade ao qual a prefeitura se associou e que dará aos visitantes um selo para descontos.
— O público-alvo é o cidadão porto-alegrense, mas a Região Metropolitana tem 4 milhões de pessoas. Enxergamos uma grande vocação da cidade e uma grande possibilidade nesse momento de retomada. Os Caminhos Rurais são um destino consolidado, que só precisa de ajustes e melhorias — diz Rodrigo Lorenzoni, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo.
Lorenzoni afirma que uma emenda parlamentar deve garantir recursos para um olhar especial para os Caminhos Rurais, o Centro Histórico e o Quarto Distrito. No caso dos Caminhos Rurais, além da divulgação, devem ser melhoradas sinalização e infraestrutura (incluindo acessos, reclamação de empreendedores e turistas, energia elétrica e sinal de internet), assim como a qualificação.
Uma novidade será o retorno da Linha Turismo, interrompida na pandemia, em um novo modelo: após um decreto de regulamentação, em setembro deve ser lançado um edital para empresas que queiram operá-la. A ideia é que as linhas sejam segmentadas e incluam, outra vez, os Caminhos Rurais. Se os prazos forem cumpridos, os novos ônibus operarão antes do aniversário de 250 anos da Capital, em março de 2022.