Convidado a fazer palestra na reunião-almoço Tá na Mesa, da Federasul, nesta quarta-feira (21), o economista Aod Cunha, ex-secretário estadual da Fazenda, preparou um trabalho de fôlego: são 58 lâminas mostrando as fortalezas e fragilidades do Rio Grande do Sul, na comparação com outros Estados.
Aod apresentou dados, mapas, gráficos e concluiu a apresentação com algumas "verdades inconvenientes" para os empresários. Disse que os empresários precisam "assumir que boa parte da responsabilidade também é sua":
— Já tivemos todos os tipos de governo, com ciclos de quatro anos. Já as representações privadas são de longo prazo.
O economista apontou outros três pontos que considera essenciais para os empresários contribuírem de forma mais efetiva com a solução para os problemas do Estado:
- Aprender com os erros nas tentativas anteriores de construção de visão de futuro, como a Agenda 2020, o Polo de Saúde e Pacto pela Educação;
- Maior capacidade de construção de uma agenda comum entre as entidades privadas e depois de coordenação com o setor público e outras organizações da sociedade;
- Escolher uma pauta mais concisa e mais transformadora do futuro. Em vez de inúmeros objetivos e projetos dispersos em cada entidade empresarial, uma lista enxuta de prioridades comuns e de grande impacto. Descer ao nível de projetos e monitoramento com times de qualidade dedicados a isso.
Na visão do economista, nem tudo é terra arrasada:
— Temos um Estado com boa formação de capital humano de nível superior, especialmente nas áreas de engenharias, inovação e saúde (medicina e enfermagem). Temos uma boa rede de serviços de saúde, melhoramos em segurança e ajuste fiscal, mesmo que com uma dívida ainda pesada. Temos oferta de energia barata e renovável e taxa de desemprego baixa, mas ainda temos desafios relevantes na área de educação básica, gestão de recursos naturais e gaps relevantes de investimentos em infraestrutura, agravadas com a tragédia de maio, logística e mobilidade urbana.
Aod disse que o principal desafio é enfrentar os gaps identificados e fazer do Rio Grande do Sul um lugar melhor para manter e atrair empresas e pessoas.
— Nosso maior desafio hoje é mudar o fluxo migratório, tanto de pessoas como de empresas. Esse passou a ser um desafio ainda mais relevante depois da tragédia climática de maio. Não é "apenas" reconstruir. É construir melhor.
Boa parte da palestra foi dedicada a um tema que está no topo da lista de Aod, conselheiro de empresas e estudioso dos temas que impactam no desenvolvimento: a educação. O economista destacou os dados do último Ideb, lembrando que os dados do Rio Grande do Sul continuam ruins, apesar do aumento dos investimentos, e que Porto Alegre ficou em penúltimo lugar entre as capitais, com a pior variação (negativa) de nota em dois anos.
A constatação de que a educação vai mal não ficou limitada à rede pública. Aod lembrou que na rede privada o Rio Grande do Sul ficou em sexto lugar no Ensino Fundamental e em 11º no Ensino Médio — um pouco melhor do que a rede pública no Ensino Fundamental, em comparação com outros Estados, e um pouco pior no ranking do Ensino Médio.
— Como sociedade não podemos nos conformar com o atual nível de avaliação da qualidade de ensino no Rio Grande do Sul — ressaltou.
Como caminhos para a retomada do desenvolvimento, o economista apontou maior atenção à educação, manutenção do equilíbrio fiscal por mais tempo e aumento da capacidade de investimentos e qualidade de políticas públicas, compensação do envelhecimento da população com migrações, investir na armazenagem de água para enfrentar os períodos de estiagem e buscar uma política de desenvolvimento mais moderna, melhor articulada entre setor público e privado, e mais focada em melhoria de infraestrutura e na qualidade do capital humano, tecnologia e inovação.
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