O Ideb de 2023 é um atestado do fracasso da política educacional de Porto Alegre — ou da falta de rumo. Não bastasse estar em penúltimo lugar entre as 27 capitais, Porto Alegre teve queda tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais do Ensino Fundamental, comparando com ela mesma dois anos antes. Em 2021, o Brasil ainda estava em plena pandemia e as crianças tinham passado mais de um ano fora das salas de aula.
Para ter esse resultado trágico dois anos depois, significa que a prometida recuperação do tempo perdido na pandemia ficou no discurso. Os estudantes de Porto Alegre, em que pese a rede municipal pagar salários melhores do que a estadual, ficaram no vermelho.
Nos anos iniciais, o escore caiu de 5,2 em 2021 para 4,7 em 2023. Nenhuma outra capital perdeu 0,5 entre um período e outro. Nos anos finais, caiu de 4,8 para 3,8. Mais uma vez, nenhuma outra das 26 capitais perdeu tanto. E a pandemia não foi exclusividade de Porto Alegre.
Como não adianta chorar sobre o Ideb passado, é pensar no futuro. Por isso os candidatos precisam fazer um debate maduro sobre como virar essa chapa. O próximo Ideb vai refletir os efeitos da enchente, que atrapalhou as aulas no primeiro semestre deste ano. Como fazer um debate produtivo sobre os caminhos a serem adotados?
Está claro que as crianças precisam de reforço no turno inverso. Reforço não é recreação. É conteúdo. Também ficou claro que não adianta gastar fortunas com telas e mesas digitais se os professores não forem treinados para utilizar esses equipamentos.
Que não venham os candidatos dizer que o mau desempenho das crianças é reflexo da pobreza. Que as escolas municipais se localizam na periferia e que os alunos chegam com fome ou com frio e por isso não aprendem. Cabe ao município garantir as condições para que esses meninos e meninas aprendam.
Como não cansa de ensinar a professora Esther Grossi, todas as pessoas são capazes de aprender, desde que orientadas e estimuladas de forma correta. Se fosse verdade que as crianças não aprendem porque são pobres ou porque têm pais iletrados, seríamos um país condenado ao analfabetismo.
O Nordeste, que ostenta índices melhores, já mostrou que o que faz a diferença é tirar a prioridade à educação dos discursos e levar para dentro das salas de aula. Não por acaso, Teresina está em terceiro lugar nos anos iniciais (atrás de Goiânia e Rio Branco), com 6,4. E em segundo nos anos finais, com 5,8.
ALIÁS
Seria positivo se os candidatos apresentassem antes mesmo da eleição a pessoa que vai ocupar a Secretaria da Educação, para que o eleitor possa votar sabendo o que esperar do titular da área mais importante para o presente e o futuro.