A pandemia nos ensinou que foi um erro irreparável deixar as escolas fechadas por tanto tempo. O que as crianças perderam nunca será recuperado. Por isso, na enchente deste ano é preciso garantir a reabertura das escolas tão logo seja seguro e possível. Em nome da solidariedade aos que estão impedidos de retornar à sala de aula, não se pode sacrificar aqueles que vivem em áreas que estão normalizadas ou recuperando as condições mínimas para a retomada, mesmo que seja no salão da igreja, no clube ou no CTG.
Dados da Secretaria da Educação mostram que 790 escolas foram de alguma forma afetadas: sofreram danos, estão servindo de abrigo ou têm problemas de acesso ou de transporte. Mais especificamente, foram 388 prédios danificados, alguns dos quais tinham sido reformados recentemente, e 52 estão servindo de alojamento para os desabrigados.
Pode uma escola que está abrigando adultos e crianças eu seu ginásio de esportes, por exemplo, retomar as aulas? Pode e deve, de preferência acolhendo em caráter temporário as crianças que estão no abrigo. Claro que isso não se aplica a prédios que ainda estão sem luz e sem água, mas escola fechada deve ser a exceção, não a regra.
Nesta terça-feira (7), as aulas foram retomadas nas coordenadorias regionais de educação de Uruguaiana, Osório, Erechim, Rio Grande, Palmeira das Missões, Três Passos, São Luiz Gonzaga, São Borja, Ijuí, Caxias do Sul, Pelotas, Santa Cruz do Sul, Passo Fundo, Santa Maria, Cruz Alta, Bagé, Santo Angelo, Bento Gonçalves (16ª), Santa Rosa, Santana do Livramento, Vacaria, Soledade e Carazinho.
A totalidade das crianças e adolescentes estão conseguindo chegar à escola nessas regiões? Provavelmente, não. Porque estradas sumiram, pontes e pontilhões caíram, caminhos estão inacessíveis. Mesmo assim, é melhor retomar as aulas com os que podem e recuperar nas próximas semanas com os que ficaram para trás, do que deixar todos à espera das condições ideais.
— A escola é lugar de acolhimento. Tem de ser a primeira a reabrir depois de uma tragédia, até para ajudar as crianças a se recuperarem do trauma — diz o governador Eduardo Leite, seguindo a lição da secretária de Educação, Raquel Teixeira.
As escolas estaduais têm de seguir na mesma toada dos municípios, porque o transporte é compartilhado. Não pode o Estado querer um calendário escolar único com diferenças tão gritantes entre uma região e outra. No momento, não há como se pensar em volta às aulas nas cidades que estão alagadas, sem água ou sem luz. É o caso das coordenadorias de Porto Alegre, São Leopoldo, Estrela, Guaíba, Cachoeira do Sul, Canoas e Gravataí. Nessas coordenadorias 55% das escolas sofreram danos diretos de estrutura e acesso.