Desde que o Rio Grande do Sul entrou em estado de calamidade pública por causa da enchente, o tema do possível adiamento da eleição passou a circular nas rodas de conversa com o argumento de que é preciso focar na reconstrução das cidades. É uma justificativa sedutora, dado que hoje não há clima para campanha eleitoral na maioria das cidades. O problema é que não bastaria um adiamento de poucas semanas, como ocorreu à época da covid-19, quando o problema era a aglomeração de pessoas.
O adiamento de 2020 não implicou prorrogação de mandatos. Foram poucas semanas e todos os prefeitos tomaram posse em 1º de janeiro. Desta vez, dadas as proporções da tragédia, a primeira dificuldade é definir qual seria o tempo razoável para se fazer a eleição. A situação é diferente de cidade para cidade. Qualquer data que extrapole o ano de 2024 exigiria a prorrogação de mandato do atual prefeito ou, o que é pior, um governo provisório comandado pelo presidente da Câmara.
O melhor que se pode fazer é manter o calendário eleitoral e os candidatos tomarem consciência de que campanhas caras e vistosas serão interpretadas pelos eleitores como um acinte à situação em que vive a população nesse pós-guerra climático.
O Congresso poderia, desde já, firmar um pacto de cortar pela metade as verbas do fundo eleitoral (e também do partidário) para usar esse dinheiro na construção do Rio Grande do Sul, sem aprofundar o déficit fiscal. É possível fazer campanhas mais baratas usando dois instrumentos inquestionáveis: a criatividade e a verdade. Sem impulsionamento de posts nas redes sociais, boa parte dos gastos previstos pode se converter em poupança. Sem pirotecnia nos programas eleitorais de TV, é possível reduzir drasticamente os gastos.
Em cidades menores, está criado o clima para a eleição de candidatos de consenso, como ocorreu nas últimas eleições em Barra do Rio Azul, para citar um exemplo de cidade destruída pela segunda vez em oito meses. Nas outras, que os candidatos convençam os eleitores pelas propostas e não pela desqualificação do adversário. Virão tempos difíceis para os futuros prefeitos do Rio Grande do Sul, mesmo das regiões menos afetadas, com queda da arrecadação e aumento da pobreza, o que exigirá programas sociais robustos e capacidade de gestão de finanças, obras e serviços públicos em geral.