Em sua segunda visita ao Rio Grande do Sul no terceiro mandato, o presidente Lula tentará derrubar as barreiras que o separam de boa parte dos eleitores do Rio Grande do Sul. Há um paradoxo quando se fala em barreiras ou crise na relação de Lula com os eleitores gaúchos, porque na eleição de 2022 o presidente fez a maior votação de todas as que disputou e, no entanto, enfrenta uma oposição mais raivosa do que nunca.
Aos números: Lula teve 2.891.851 votos no Estado no segundo turno de 2022, contra 3.733.185 de Jair Bolsonaro (PL). Em 2002, ficou em primeiro lugar com 2.667.451, à frente de José Serra (PSDB), que teve 1.913.186. Em 2006, quando foi reeleito, Lula também não ficou em primeiro lugar. Fez 2.811.658, mas Geraldo Alckmin, hoje seu vice, teve 3.485.916 votos.
Como explicar, então, a baixa popularidade no Estado e as ameaças (bravatas, talvez) da oposição de que não o deixarão em paz? A resposta está no tipo de oposição que fazem os bolsonaristas, diferente da que faziam os tucanos quando a polarização era entre PT e PSDB. Com Bolsonaro, uma direita que antes não se assumia como tal, resolveu mostrar a cara — e o relho.
Quando fez uma caravana pelos Estados do Sul, Lula e os petistas foram corridos de Bagé por valentões adeptos da política do relho (literalmente). Não conseguiu entrar em Passo Fundo, porque vândalos queimaram pneus e trancaram a rodovia. Outro paradoxo: Lula venceu a eleição em Bagé em 2022 (fez quase 5 mil votos mais do que Bolsonaro).
Encerrado o processo eleitoral, os inconformados com a derrota ficaram ainda mais agressivos, esquecendo as obras realizadas pelos governos do PT, mesmo que não conseguissem apontar nenhuma iniciada na gestão de Bolsonaro. Parte dessa resistência vem da ligação do PT com o MST e das declarações de Lula contra o agronegócio.
Na enchente de setembro, Lula foi cobrado por não visitar o Vale do Taquari, embora tenha liberado recursos e mandado em seu lugar o vice-presidente Geraldo Alckmin, meia dúzia de ministros e a primeira-dama Janja da Silva, hostilizada em Lajeado.
Na visita desta sexta-feira (15), acompanhado dos ministros mais importantes, Lula tem a chance de mostrar o que fez e, principalmente, anunciar o que fará no Vale do Taquari e em outros municípios, nas diferentes áreas.
Em Porto Alegre e Lajeado, a plateia será formada basicamente por prefeitos e líderes empresariais. Será uma oportunidade de discutir o que interessa ao cidadão: a solução dos problemas reais, para além da disputa política.
Aliás
Para completar o que o seu governo e o de Dilma Rousseff iniciaram, Lula precisa concluir a duplicação da BR-116 entre Guaíba e Pelotas e da BR-290 (Eldorado do Sul-Pantano Grande), estender a Rodovia do Parque até Portão e terminar a ponte do Guaíba, inaugurada por Bolsonaro sem a conclusão das alças de acesso, que viraram um esqueleto na paisagem.