O governo federal está liberando R$ 741 milhões para mitigar os estragos das enchentes no Rio Grande do Sul. O anúncio foi feito neste domingo (10), em Lajeado, pelo presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin. À frente de uma comitiva formada por 17 autoridades federais, entre elas oito ministros (Meio Ambiente, Defesa, Saúde, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Comunicação Social, Previdência, Cidades e Integração e Desenvolvimento Regional), Alckmin visitou Roca Sales e Muçum e se reuniu com empresários e prefeitos em Lajeado.
— Como tem gente boa no Rio Grande do Sul — exaltou, ao citar o grande número de voluntários que presenciou atuando na região.
Pouco antes, Alckmin pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas. Entre as medidas anunciadas, citou recursos para construção de moradias, aquisição e distribuição de alimentos, reformas de pontes e estruturas de saúde.
Segundo o presidente em exercício, o governo antecipou o pagamento de benefícios sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada. A pedido de empresários, foi prorrogado o vencimento de tributos federais. O setor também pediu linhas de crédito com juros subsidiados e prazos estendidos.
— Temos três desafios aqui. O primeiro era salvar vidas, buscar pessoas, continuar o trabalho hospitalar, de saúde. O segundo é reconstruir as cidades. Visitamos vários municípios. É impressionante a violência das águas. A terceira é a economia: salvar o emprego, recuperar a economia — salientou.
Alckmin chegou ao Rio Grande do Sul por volta das 9h. Da Base Aérea de Canoas, onde desembarcou e era aguardado pelo governador Eduardo Leite, seguiu de helicóptero ao Vale do Taquari. A primeira parada foi no hospital de campanha erguido em Roca Sales, segundo munícipio com maior número de mortes (10).
Montado durante a madrugada com recursos da Força Nacional do SUS e equipamentos do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), o hospital tem 20 profissionais atuando no atendimento às vítimas da enchente. No local, há também estrutura para primeiros socorros e três leitos de estabilização para pacientes graves. O complexo abriga ainda ambulâncias e central de distribuição de medicamentos.
Na sequência, as autoridades caminharam por cerca de um quilômetro pelas ruas do centro, vistoriando as áreas destruídas.
— Pega uma vassoura, vem ajudar — gritou um homem que limpava uma loja tomada pelo barro.
Alckmin seguiu em frente, parou diante de um arroio que estourou, onde recebeu mais informações sobre o desastre do prefeito Amilton Fontana. Em seguida, seguiu para Muçum.
O grupo entrou por um acesso secundário, indo direto à Avenida Nossa Senhora de Fátima, uma das zonas mais devastadas de Muçum. Costeira ao Rio Taquari, a via perdeu quase todas as construções ribeirinhas.
Logo na chegada, foi interpelado pelo prefeito Mateus Trojan, que entregou uma pasta com demandas do município. De caneta em punho, Alckmin sublinhou os pedidos mais urgentes.
Da rua, observou a marca que a correnteza havia deixado no topo das casas.
— Chegou no telhado — surpreendeu-se.
Enquanto conversava com moradores e autoridades locais, foi abordado pela professora municipal Sandra Lanzoni.
— A gente tá sendo bem assistido. Mas precisamos de crédito, sem burocracia. É a primeira vez que eu preciso do governo. A gente confia no senhor — clamou Sandra, que perdeu a casa e só conseguiu salvar os pais porque colocou o casal num carro que fugia da enchente.
Alckmin ficou menos de meia hora em cada município, mais ouviu do que falou e retornou para Lajeado. No auditório da Univates - Universidade do Vale do Taquari, se reuniu com deputados e prefeitos da região. Pouco antes, recebeu microempresários que tiveram os negócios destruídos pela cheia do Taquari.
Com a viagem, o governo federal tenta reverter a imagem deixada no início da semana, quando surgiram críticas pela ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Rio Grande do Sul. Lula conversou com Leite por telefone na terça-feira (5) e passou a quarta (6) de cama, com dores no quadril. No dia seguinte, embarcou para a Índia, onde participa da reunião de cúpula do G20. Um dia antes, uma comitiva de ministros havia estado em Lajeado, mas a pressa da visita causou incômodo entre as autoridades estaduais.
Diante das cobranças por recursos e efetivos federais, Alckmin deu entrevista coletiva no final da tarde de sexta-feira em Brasília, anunciando a liberação de até R$ 800 por cada pessoa desabrigada nos municípios atingidos. Nas redes sociais, o governo também reforçou a divulgação das medidas adotadas.
— De parte do presidente Lula e do presidente Alckmin, houve absoluta prioridade. Desconheço qualquer pleito que não tenha tido resposta imediata do governo federal — garantiu o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, ao listar as ações federais e o momento em que elas foram reivindicadas.
Em um rápido pronunciamento, Leite anunciou ampliação do programa Volta por Cima, criado após os ciclones do primeiro semestre. Agora, serão R$ 700 por pessoa afetada pelas enchentes e R$ 2,5 mil por pessoa afetada que está no Cadastro Único.
Veja os recursos empregados por pasta (total de 741 milhões):
26 milhões: Ministério da Defesa
80 milhões: Ministério da Saúde
16 milhões: Ministério dos Transportes
125 milhões: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (Programa de Aquisição de Alimentos)
57,4 milhões: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social + Ministério da Previdência Social = Benefício de Prestação Continuada (BPC)
195 milhões: Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional + Ministérios das Cidades = Minha Casa Minha Vida
185 milhões: Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (Defesa Civil)
56,6 milhões: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social
Novo PAC terá R$ 14,9 bilhões para prevenir desastres, diz governo
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, disse que o governo federal já tem disponível R$ 14,9 bilhões do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), destinados à prevenção de desastres, em todo o Brasil.
O ministro esclareceu que o governo federal está pronto para receber dos governos estaduais e municipais projetos para contenção de encostas, para melhorar as condições de saneamento e de drenagem.
— Para evitar danos tão grandes como aconteceram em desastres como esse — declarou o ministro Wellington Dias, ao se referir ao ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul nesta semana.
O novo PAC foi lançado em agosto, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.