Já são mais de cem assinaturas no requerimento em que deputados de oposição pedem o impeachment do presidente Lula por ter comparado o que Israel está fazendo com os palestinos na Faixa de Gaza ao Holocausto. O requerimento não tem substância, porque Lula errou ao fazer a comparação, mas isso não se enquadra na definição de crime de responsabilidade nem forçando.
O que a oposição, sobretudo o PL de Jair Bolsonaro, quer é desgastar Lula com a comunidade judaica, os evangélicos e os brasileiros que acreditam em fake news.
Vale repetir aqui o que já foi dito na coluna de domingo (18): Lula errou. Com o erro, acabou provocando uma crise diplomática com Israel, que chamou o embaixador brasileiro para explicações e o humilhou. Chamar o embaixador para explicar um ato do governo de seu país é praxe na diplomacia, mas o que Israel fez com Frederico Meyer foi constrangê-lo durante a entrevista em que o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, falou em hebraico e o diplomata brasileiro, sem entender o idioma, ficou com cara de paisagem.
A rusga entre Lula e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a quem o presidente brasileiro responsabiliza pela morte de milhares de mulheres e crianças na Faixa de Gaza, deu à oposição um instrumento para desgastar o adversário. Os deputados sabem que o pedido de impeachment não para em pé, mas, como se trata de um processo político, aproveitam para desgastar Lula, contando, quem sabe, com a possibilidade de o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), virar o Eduardo Cunha de 2024.
Relembrando, havia em 2015 e 2016 dezenas de pedidos de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, como ocorre com todos os governantes desde Fernando Collor. Um dia, descontente porque teve seus interesses contrariados pelo PT e porque Dilma não lhe dava trela, Cunha escolheu um dos requerimentos e abriu o processo de impeachment. Desgastada porque a economia ia mal, a presidente perdeu o cargo com o pretexto das pedaladas fiscais, mas o que a derrubou foi a articulação do vice-presidente Michel Temer e a pressão das ruas, insuflada pela oposição.
Um pedido de impeachment é uma poderosa arma nas mãos de Lira, que pode usá-lo como instrumento para pressionar o governo na eterna briga do centrão por cargos e emendas parlamentares.
Quem mandou?
Os desdobramentos da investigação de irregularidades na Secretaria Municipal de Educação (Smed) chegou a um ponto crucial. Depois de uma ex-assessora ter dito que as ordens para comprar deste ou daquele fornecedor vinha de fora, a pergunta chave é uma só:
— Quem mandava?