Com o apoio do vereador Pedro Ruas (PSOL), líderes de movimentos sociais e de Direitos Humanos preparam uma série de eventos em Porto Alegre para marcar os 60 anos do golpe militar de 31 de março de 1964. O primeiro deles será em 27 de fevereiro, na Câmara Municipal, às 19h, quando será realizado ato público em protesto aos 50 anos de desaparecimento do militante gaúcho Cilon Brum, natural de São Sepé, cujo corpo jamais foi localizado.
A principal cobrança dos militantes, liderados por Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, é a recriação da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da ditadura. O colegiado foi criado em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso, e extinto em dezembro de 2022, faltando duas semanas para o fim do mandato de Jair Bolsonaro.
— Qual é a dificuldade em restabelecer a comissão? O presidente Lula não pode temer aos militares. Já havia uma comissão, que trabalhou durante todo o governo Bolsonaro. Basta um simples decreto do Lula para restabelecer a comissão — argumenta Krischke.
Para não perder de vista o horror causado pela perseguição política da ditadura, o grupo pretende instalar uma estátua de bronze em proporção real do ex-presidente João Goulart, deposto pelos militares em 1964 e morto no exílio, em 1976. A ideia é erguer a estátua em homenagem a Jango próximo à Usina do Gasômetro, na avenida que leva o nome do ex-presidente.
— Nos países do Cone Sul, existem políticas públicas de memória. O país que mais tem é a Argentina. O Brasil é muito pobre em memória. Isso deve ser pedagógico, não é só uma homenagem à memória de João Goulart, mas uma forma de valorizar a democracia, para que episódios como o 8 de Janeiro não ocorram novamente — observa Krischke.
Vereador de oposição, Ruas pretende se reunir com o prefeito Sebastião Melo para obter o aval da prefeitura à instalação do monumento. Se tiver autorização do município, três datas são cogitadas para o evento: 1º de abril (data que a esquerda considera como a verdadeira do golpe militar, e não 31 de março), 4 de abril (quando Jango deixou o Brasil) e 6 de dezembro (data de falecimento do ex-presidente).
Também é prevista uma mostra de cinema com a exibição do documentário Jango no Exílio, do diretor Pedro Isaías Lucas Ferreira, na Cinemateca Capitólio.