Um mês já se passou desde que hordas de vândalos vestidos de verde e amarelo perpetraram um ataque vil ao Palácio do Planalto, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal. O que conseguiram? Mostrar ao mundo que o Brasil tem instituições sólidas e que não há espaço para o golpismo. O que mais? Expor a falta de inteligência dos golpistas, que produziram provas contra si mesmos e agora reclamam das prisões preventivas. Mais alguma façanha? Mostrar o perfil de quem apoia atos violentos. Se alguém ainda tem dúvida, que consulte a folha corrida de alguns dos presos, incluindo a vovó quebra-tudo de Tubarão.
A investigação ainda não está concluída, mas já ficou claro que houve omissão e conivência das forças de segurança do Distrito Federal com os atos golpistas. A começar pelo então secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, que desmontou a estrutura capaz de proteger Brasília dos vândalos e voou para a Flórida, de onde retornou direto para a prisão.
Foi na casa de Torres que a Polícia Federal encontrou a minuta de um decreto golpista, que previa estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral, para contestar apenas o resultado da eleição presidencial. O ex-ministro da Justiça não sabe como a minuta foi parar em sua casa, assim como não sabe onde foi parar seu telefone. Diz que perdeu — e acredite quem quiser no desinteresse em recuperar as informações que ficam na nuvem quando se perde o aparelho.
O corpo mole de policiais, comprovado por imagens inequívocas de câmeras, sugere que havia uma combinação para fazer vista grossa. Mesmo alertados de que dezenas de ônibus se dirigiam para Brasília, levando militantes inconformados com a vitória, a diplomação e a posse do presidente Lula, os responsáveis pela segurança não protegeram os prédios públicos mais importantes de Brasília. Sem contar os que estavam de folga e brotaram na Praça dos Três Poderes dando guarida aos criminosos.
A intervenção na segurança do Distrito Federal — em vez da esperada Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — impediu que Lula se tornasse um espectador da crise, deixando o protagonismo para as Forças Armadas. A demissão do comandante do Exército, general Júlio César Arruda, duas semanas depois, escancarou a crise de confiança e a politização das Forças Armadas, evidente desde que os bolsonaristas acamparam em frente aos quartéis, logo depois da eleição.
Passado um mês do episódio que o Brasil jamais vai esquecer, é estranho que Lula tenha decidido impor sigilo sobre as imagens brutas do ataque ao Palácio do Planalto. Qual o fundamento? Se o que se quer é transparência, a Polícia Federal, o Ministério Público, a Justiça e a imprensa têm de ter acesso às imagens. E mostrá-las, acompanhadas de informações sobre eventuais condenações, para desestimular os golpistas do futuro.