Por qualquer ângulo que se olhe, o problema da falta de professores no futuro, combinado com a formação deficiente, vai assumindo proporções dramáticas no Rio Grande do Sul. Se antes se falava no fechamento de turmas de licenciaturas nas universidades privadas, o que forçava o corte de vagas porque os alunos não queriam ou não podiam pagar a mensalidade, hoje o retrato mais fiel do desinteresse pela profissão vem de outra banda. As universidades federais não estão conseguindo preencher as vagas, mesmo sendo gratuitas.
Antes de analisar a relação entre vagas oferecidas e inscrições no próximo vestibular da UFRGS é importante passar os olhos por outro indicador, da mesma renomada universidade. Trata-se do edital para reingresso de diplomado, cujas inscrições se encerraram nesta sexta-feira (10). Entre as 647 vagas em 62 opções de graduação, quase 200 eram de licenciaturas. A saber: Educação Física (30), Ciências Sociais (25), Música (25), Matemática (40), Química (20), Dança (20), Física (16), Filosofia (15), História (15), Ciências Biológicas (10), Geografia (7), Teatro (5), Pedagogia (2) e Artes Visuais (2).
No início da semana saberemos para quantas dessas vagas apareceram candidatos ou se as cadeiras seguirão vazias no próximo semestre, mesmo com professores e espaço disponível.
Se essa oferta para diplomadas reflete também a evasão, o vestibular é o retrato do desinteresse dos jovens egressos do Ensino Médio. A UFGRS é gratuita, hoje há cursos noturnos de professores e nem assim as pessoas se interessam. Reportagem de GZH mostrou que, das 97 opções de cursos oferecidos pela UFRGS para 2024, em 21 há mais vagas do que candidatos. De novo, as licenciaturas estão entre as que concentram o menor número de interessados.
Quem vai ensinar Física para as crianças que hoje estão no Ensino Fundamental? A UFGRS oferece 24 vagas no curso diurno de licenciatura em Física e 24 no noturno. Inscreveram-se sete para a turma diurna e 16 para a noturna. Em Matemática (noturno) são 31 vagas e 16 candidatos. Quem vai ensinar matemática para os futuros médicos, engenheiros, administradores, advogados, economistas, professores, que ainda não escolheram sua profissão? Quem vai ensinar geografia, que na licenciatura também tem mais vagas do que candidatos?
O quadro se repete em outras universidades federais e se aprofunda nas privadas. Por isso, tantas instituições particulares investiram no Ensino a Distância, terror dos especialistas em educação, pela convicção de que na maioria dos casos o formando não sai habilitado a ensinar.
ALIÁS
Ninguém até aqui apresentou a fórmula perfeita para evitar o apagão de professores, mas ela deveria conter pelo menos quatro ingredientes: valorização da carreira, melhores salários, formação adequada e custeio, pelos governos, dos cursos de licenciatura.