Para os argentinos, o último debate entre os candidatos Sergio Massa (Unión por la Pátria) e Javier Milei (La Libertad Avanza) pode ter sido decisivo em uma eleição apertada como as pesquisas indicam que será o segundo turno, no próximo domingo (19). Para os brasileiros, foi a reafirmação de que as relações serão fluidas com Massa e difíceis com Milei, como foram entre o atual presidente, Alberto Fernández, e Jair Bolsonaro.
Relembrando, na eleição de 2019, Bolsonaro fez campanha para Maurício Macri e expôs sua rejeição a Fernández, peronista aliado de Luiz Inácio Lula da Silva. Ganhou Fernández e as relações entre os dois foram protocolares. O Mercosul murchou, mas assim mesmo o Brasil continuou a ser o maior parceiro comercial da Argentina.
Na campanha das primárias e também no primeiro turno, Milei fez questão de expressar seu desprezo por Lula. Disse que se for eleito não negociará com o Brasil e a China, entre outros países que na sua classificação particular são governados por comunistas. Na lista, naturalmente, não poderiam faltar Cuba e Venezuela, mas esses pouco importam, dado que o grande volume de negócios é com o Brasil e a China.
No debate de domingo (12) à noite, Massa provocou Milei para que repetisse suas restrições a negociar com Brasil e China. O candidato governista, que também é ministro da Economia, lembrou que se não puderem vender para Brasil e China, milhares de argentinos perderão seus empregos, empresas irão à falência e a crise econômica se agravará.
Milei insistiu na tese de que as exportações são negócios privados e que independem de governos. Massa contestou. Disse que o adversário não tinha ideia de como funcionam as relações comerciais entre países e lembrou que China e Brasil são parceiros em uma via de mão dupla: tanto importam quanto exportam para a Argentina. Acrescentou que também dependem dos governos as políticas sanitárias que podem se transformar em barreiras para os negócios.
Para surpresa de quem conhece minimamente as regras do comércio internacional, Milei chegou a dizer que se os argentinos não puderem vender carne e soja para a China, não é problema: que procurem outros mercados. Mal sabe o candidato ultraliberal o quanto é difícil conquistar um mercado ou reconquistá-lo depois de perder.