No balanço feito por analistas argentinos, o candidato de oposição, Javier Milei, da coalizão La Libertad Avanza - por lá, conhecida por LLA - perdeu o debate da noite de domingo, o último antes das eleições em segundo turno previstas para o próximo domingo (22).
Mesmo assim, depois do confronto pessoal com o candidato da situação, Sergio Massa, atual ministro da Economia, os mesmos analistas entendem que ele ficou mais perto da vitória. Como assim? Porque embora tenha desperdiçado oportunidades de explorar a maior fraqueza do adversário - a péssima situação da economia, gerida por Massa - Milei conseguiu não expor a sua: o desequilíbrio emocional.
E bem que Massa tentou. Não só propôs que fosse exigido um exame para comprovar a saúde mental dos dois candidatos como trouxe um capítulo menos conhecido do passado de Milei: sua expulsão de um estágio no Banco Central de la República Argentina (BCRA) - instituição que ele quer extinguir, segundo o adversário por ter sido rejeitado - durante o curso de Economia, supostamente por desempenho insuficiente.
A intenção era desestabilizar Milei e reforçar no eleitorado o medo de que o candidato da LLA não tenha estabilidade emocional para governar. E embora Milei tenha passado recibo de que não foi bem no debate - acusou os partidários de Massa de tossir durante suas respostas para tirar sua concentração -, conseguiu manter o tom relativamente controlado.
Foi muito, dado seu histórico pessoal e até suas performances de campanha, como os desfiles em que porta uma motosserra. O feito foi observado, por exemplo, pelo jornal focado em economia Ámbito Financiero: "Milei apareceu sempre contido e com o objetivo de cumprir um objetivo mínimo: evitar o colapso emocional durante o debate" (clique aqui para ler).
Na indecifrável Argentina, em uma semana tudo pode acontecer. Mas como a eleição deve ser decidida voto a voto, Milei resistiu a uma prova de fogo. Nem todos os eleitores leram o livro El Loco: La Vida Desconocida de Javier Milei y su Irrupción en la Política Argentina, de Juan Luis González, que narra não só os palavrões que costumava dirigir a seus vizinhos de prédio, mas a difícil convivência com os cinco cachorros da raça mastim inglês, todos clones de seu adorado Conan - com quem diz se comunicar por telepatia. Cada um com cerca de cem quilos, já obrigaram Milei a derrubar as paredes de seu apartamento e a jogar fora todos os móveis. Dizer que os argentinos têm pela frente uma escolha de Sofia é simplificar a situação.