Tradicional adversário do Brasil no futebol, a Argentina é mais do que aquele vizinho que a gente visita nas férias ou em um fim de semana prolongado para comer carne, tomar bons vinhos ou assistir a um espetáculo musical. Para o Rio Grande do Sul, com o qual faz fronteira, a ligação é ainda mais sólida. A Argentina é o maior parceiro comercial do Brasil e destino de boa parte das exportações gaúchas, especialmente de máquinas e implementos agrícolas. Sua saúde financeira impacta diretamente nos negócios das empresas brasileiras em geral e de algumas gaúchas em particular.
No turismo, nem se fala. No verão, quando a situação econômica é favorável, levas de argentinos lotam as praias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Os gaúchos, em geral, adoram Buenos Aires no outono, no inverno e na primavera, porque é um destino acessível de carro e está a uma hora meia de avião, embora hoje só exista um voo direto, da Aerolíneas Argentinas, entre Porto Alegre e Buenos Aires. Estão, também, entre os que mais visitam Bariloche e Mendoza, dois dos destinos turísticos mais procurados da Argentina.
Por ser um vizinho tão especial, os brasileiros se envolvem na eleição e torcem pelos candidatos de acordo com a sua ideologia. Enquanto os integrantes do governo Lula são simpáticos a Sérgio Massa, da aliança governista Unión pela Pátria, a direita brasileira torce com fervor pelo ultraliberal Javier Milei, considerado uma espécie de Bolsonaro argentino.
A família Bolsonaro adotou Milei como seu candidato. O ex-juiz Sergio Moro, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, hoje senador pelo Paraná, também. Nas redes sociais, Moro expressou sua simpatia por Milei e disse estar torcendo para que ele vença no primeiro turno ou que, se houver segundo turno, que Patrícia Bullrich, da direita tradicional, se classifique.
Integrantes do governo brasileiro avaliam que ele é o pior para os interesses do Brasil, porque já disse que não vai negociar com o presidente Lula, porque não negocia com socialistas. Diz o mesmo da China, mas provavelmente morderá a língua se for eleito, porque a Argentina não tem como desprezar dois parceiros comerciais dessa magnitude.
Milei tem um discurso semelhante ao de Bolsonaro, de desprezo pela classe política, embora seja deputado. Assim como os bolsonaristas veem um comunista em cada pessoa que não partilhe das suas crenças, Milei atribui todos os problemas da Argentina à política “socialista” de Alberto Fernández e dos Kirchner.
Aa crises na Argentina são cíclicas. Ocorrem nos governos de esquerda e de direita. Os eleitores trocam o presidente, o eleito não consegue cumprir as promessas de campanha, cai na eleição seguinte e assim a roda gira. O presidente anterior a Alberto Fernández foi Maurício Macri, um empresário bem-sucedido, liberal, mas que é tratado como esquerdista por boa parte dos eleitores de Javier Milei.