O jornalista Fábio Schaffner colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Em 15 dias, Eduardo Leite conclui seu curto e turbulento mandato à frente do PSDB. Aclamado presidente nacional do partido em novembro do ano passado, logo após se reeleger governador, Leite assumiu o cargo em janeiro. Sua missão primordial era devolver à legenda uma espinha doutrinária rígida o suficiente para catapultá-lo à disputa pela Presidência da República em 2026.
Não se sabe se o gaúcho será candidato, muito menos se competitivo. Mas a verdade é que ele entrega um PSDB menor do que recebeu. Desde o início do ano, a legenda perdeu metade dos senadores e viu sua fortaleza paulista ruir, com redução de 80% no número de prefeitos.
O encolhimento é reflexo da crise de identidade que Leite tentou combater. Flertando com a antipolítica desde 2016, o PSDB mudou de perfil. De rival do PT, foi ao extremo do antipetismo, trocando o ideário social-democrata que carrega no nome por uma adesão ao bolsonarismo.
Leite buscou resgatar bandeiras históricas e contratou uma consultoria para entender, afinal, quais bandeiras os tucanos defendem. Do estudo resultou uma carta-síntese na qual o partido se apresenta como uma espécie de MDB moderno, se equilibrando em um liberalismo que garante proteção social.
No papel, ficou bonito. Na prática, só serviu para requentar em âmbito nacional o discurso centrista que Leite usou para vencer Onyx Lorenzoni na eleição do ano passado. Estrela em ascensão na sigla, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, ameaça debandar, assim como o líder da bancada no Senado, Izalci Lucas (DF). Explicitando a confusão ideológica, Raquel pisca para o centro, flertando com o PSD, e Izalci para a direita, conversando com o PL.
O mandato de Leite foi encurtado pela Justiça, em processo movido por adversários internos. O gaúcho poderia concorrer de novo, na eleição do dia 29, mas preferiu esgrimir de dentro do Piratini. Lá fora, o PSDB se comporta como o personagem do chiste de Golbery do Couto e Silva, que anda de guichê em guichê da rodoviária, pedindo desconto na passagem. Quando obteve, não soube para onde ir.