Se foi de Javier Milei ou de Mauricio Macri a ideia de mandar Diana Mondino ao Brasil no fim de semana, não vem ao caso. O primeiro passo foi dado pelo presidente eleito da Argentina para distensionar as relações com o Brasil. Diana, futura ministra das Relações Exteriores, foi a Brasília se encontrar com o chanceler Mauro Vieira e entregar pessoalmente o convite a Lula para participar da posse de Milei, no dia 10 de dezembro.
Não é pouca coisa para quem na campanha eleitoral insultou Lula e disse que não queria relações com comunistas, citando o Brasil e a China. Eleito, Milei descobriu que não tem como governar na base das bravatas e, para desgosto da direita brasileira, não só mandou Diana entregar o convite par a posse como a fez portadora de uma carta para Lula, dizendo que deseja manter relações produtivas com o Brasil.
Lula deveria ir à Argentina para mostrar que sabe separar relações pessoais dos negócios de Estado. Ele não gosta de Milei e a recíproca é verdadeira, mas não se trata de casamento. Se Lula respeita a democracia argentina, elogiada no dia da vitória de Milei, sem citar o presidente eleito, precisa estar em Buenos Aires no dia da posse do vencedor.
Se não for, iguala-se a Jair Bolsonaro, que se recusou a ir à posse do atual presidente, Alberto Fernández, porque seu candidato era Macri em 2019. Ou que não foi à posse do presidente do Chile, Gabriel Boric, para não prestigiar um vencedor de esquerda.
Em agosto, Lula esteve na posse do presidente do Paraguai, Santiago Peña, do Partido Colorado, um homem assumidamente de direita. Por que não iria na posse de Milei? Porque na campanha o então candidato o chamou de comunista e de corrupto? Na campanha, Milei distribuiu insultos para todos os lados. Chamou Patricia Bullrich de montonera (guerrilheira), ofendeu o Papa Francisco, dizendo que “enviado do Maligno", atacou Mauricio Macri. No segundo turno, aliou-se a Macri e Patricia e abrandou o discurso. Eleito, indicou Patricia para ministra da Segurança Pública, escolheu um ex-ministro de Marci para comandar a Economia e está seguindo os conselhos do ex-presidente. Em bom português, isso significa um “estelionato eleitoral” que está sendo comemorado por quem temia o cumprimento das promessas de campanha.