Nos longos meses em que a reforma tributária foi debatida na Câmara e no Senado, a maioria dos parlamentares federais gaúchos fez de conta que se tratava de assunto para extraterrestres. Ou se dividiu mais ou menos assim: os que eram contra porque votam assim tudo o que vem governo, os que tomaram posição favorável porque consideram bom tudo o vem do Planalto, os que nem se deram ao trabalho de ler porque o assunto é chato e não dá cliques nas redes sociais e um grupo minoritário que estudou a matéria, deu palpites, sugeriu emendas. Em que grupo se enquadra seu senador, seu deputado ou sua deputada?
Por que lembrar agora da omissão da maioria da bancada gaúcha? Porque agora que a proposta de emenda à Constituição foi aprovada na Câmara e no Senado o Brasil ficou sabendo que os governadores do Sul e Sudeste fizeram um pacto para aumentar o ICMS. Fizeram porque viram os Estados do Norte e Nordeste aumentando suas alíquotas na esperteza, para ficar com uma fatia maior do bolo quando a reforma tributária entrar em vigor.
A pergunta que se impõe é: ninguém se deu conta de que isso aconteceria quando se fixou, para efeito de divisão do valor arrecadado, a média da arrecadação de 2024 a 2028? Agora é fácil dizer que tudo se resolve mudando esse "marco temporal", mas quem garante que haverá os votos necessários? Estarão os três senadores e os 31 deputados federais gaúchos dispostos a trabalhar por essa mudança?
O governador Eduardo Leite e a secretária Pricilla Santana bem que tentaram, mas não conseguiram convencer nem o relator. Se as bancadas que estão satisfeitas com esse arranjo, porque seus Estados já aumentaram o ICMS, não concordarem com a mudança, não passa.
Durante as discussões, boa parte dos deputados gaúchos preferiu gastar seu tempo com CPIs inúteis, que foram do nada a lugar nenhum. Porque era mais pop nas redes sociais insultar depoentes do que discutir IVA e similares. Ou ficar espalhando fake news sobre os atos de 8 de Janeiro. Ou cuidar da pré-campanha de 2024 ou de 2026. Ou trabalhar pela eleição de seu preferido na Argentina.
Relembrando, o Rio Grande do Sul sequer teve assento na comissão especial da reforma tributária. Quantos brigaram para estar nesse grupo que deu as cartas iniciais? Quem sabe quais são os artigos que precisariam ser modificados e está disposto a trabalhar para convencer os colegas de partido, que representam regiões beneficiadas com a manutenção da situação atual? São poucos. Raros mesmo.