Os bastidores da conquista de um investimento de R$ 1 bilhão e a chegada do Club Med ao Rio Grande do Sul têm histórias que podem servir de lição para quem quer atrair investimentos privados. Foi por um detalhe que o Estado superou Punta del Este, no Uruguai, na disputa pelo investimento do grupo de origem francesa, que tem resorts nos cinco continentes (apenas três no Brasil até agora).
Além do resort com 250 quartos, pista de esqui com neve artificial e uma "vila da neve", o complexo em Gramado terá moradias e um centro de entretenimento, com shows capazes de atrair turistas de alto poder aquisitivo.
O fato decisivo, segundo contou o CEO do Clube Med para a América Latina, Janyck Daudet, foi o governador Eduardo Leite ter subido a Serra debaixo de chuva e neblina típicos do inverno gaúcho para receber o presidente mundial do grupo, Henri Giscard d'Estaing, filho do ex-presidente francês Valéry Giscard d’Estaing.
No almoço em que o empreendimento em sociedade com a DC Set Group (leia-se Dody Sirena e Cicão Chies) foi anunciado, Daudet, que fala um português bastante compreensível, contou que desde o início Giscard d'Estaing era cético em relação ao sucesso de um Club Med num lugar "que não tem praia nem neve".
Daudet já tinha sido convencido da viabilidade por Dody, mas os números promissores e os planos não bastavam para o número 1 do Club Med. D'Estaing resolveu vir ao Rio Grande do Sul conhecer Gramado, o terreno, os sócios e as autoridades com quem seu subordinado estava negociando.
Depois de 12 horas de voo, os franceses desembarcaram em São Paulo cansados, mas prontos para tomar um jatinho e voar direto para Gramado. Souberam então que chovia e que não havia aeroporto para permitir o pouso sob neblina na serra. Tomaram um voo de carreira para Porto Alegre. Ao desembarcar, por volta do meio-dia, souberam que teriam de ir a Gramado de carro.
Estava combinado que, à noite, teriam um jantar no Palácio das Hortênsias, em Canela, com o governador do Estado. Foram debaixo de chuva, sem enxergar nada das margens da rodovia. Chegaram a Gramado e o francês não conseguiu ver a cidade, tomada pela neblina.
Levado por Dody para almoçar no 1835, no futuro Kempinski Laje de Pedra, não conseguiram contemplar a vista do Vale do Quilombo. Tampouco havia como ter ideia da paisagem nos 205 hectares onde seria o empreendimento.
À tarde, reunidos em um hotel, o francês se empolgou com os números mostrados numa tela, mas seguia intrigado. Dody avisou que talvez o jantar fosse cancelado, porque não havia como o governador ir de helicóptero até Gramado. E achou que o negócio havia naufragado. Às 18h, recebeu um telefonema de Leite avisando que, por causa da chuva, iria de carro.
Duas horas e meia depois, Leite recebeu o grupo no Palácio das Hortênsias, saudando-os em francês perfeito. Encerrado o jantar, o francês bateu o martelo em favor do Rio Grande do Sul.
— Se ele não viesse, o negócio não sairia — disse Daudet, que promete não decepcionar, já que o Club Med de Gramado terá a essência dos resorts de praia e montanha espalhados ao redor do mundo, de "vender e entregar felicidade", gerando empregos e respeitando o meio ambiente.
Dody Sirena destacou o empenho do secretário de Desenvolvimento, Ernani Polo, que abraçou a ideia quando era presidente da Assembleia e viu o negócio ser fechado em sua gestão na secretaria.