Para entender os desafios que esperam Javier Milei como presidente da Argentina, GZH montou um pequeno dicionário das palavras que marcaram a eleição e que serão chave no seu governo. Há mais nomes próprios que mereceriam figurar nessa lista, mas a opção foi usar os que têm relação com o Brasil em geral e com o Rio Grande do Sul em particular. Confira:
Aluguéis – A lei argentina é bastante restritiva em relação aos aluguéis, impondo uma série de obrigações a proprietários e inquilinos. Javier Milei quer revogá-la para instituir a livre negociação entre as partes.
Banco Central – Desde as primárias, Milei vem prometendo acabar com o Banco Central Argentino. Aliados alertam que o processo não é tão simples como parece e admitem que ele pode acabar recuando.
Bolsonaro – O ex-presidente brasileiro é simpatizante de Javier Milei desde que foi apresentado ao futuro presidente argentino pelo filho Eduardo, que esteve em Buenos Aires no primeiro turno. Na segunda-feira, Eduardo fez uma teleconferência com Milei e o pai. Bolsonaro cumprimentou o vencedor e disse que a importância dele vai além das fronteiras da Argentina.
Cachorro – O futuro presidente argentino tem cinco cães da raça mastim inglês e disse ao autor de sua biografia não autorizada que são clones de Conan, o cachorro que morreu há vários anos e com quem ele conversa por meio de uma médium especializada em “comunicação interespécies”.
Cambio (1) – Mudança pregada pelos adversários do peronismo e que acabou unindo Patricia Bullrich e Mauricio Macri a Milei, de quem os dois eram críticos.
Cambio (2) – Palavra mais ouvida pelos turistas que circulam pela Calle Florida e que oferecem pesos por dólares com cotação superior à oficial.
Capital Humano – Superministério a ser criado por Milei, com pelo menos quatro secretarias sob seu guarda-chuva: Educação, Saúde, Trabalho e Inovação.
Casa Rosada – Palácio do governo argentino, em frente à Praça de Maio, hoje reservado a despachos e cerimônias oficiais. O presidente mora na Residência de Olivos.
Casta – Palavra usada por Milei para se referir à elite política que teria levado à Argentina ao caos. Nas primárias e no primeiro turno, essa palavra incluía o ex-presidente Mauricio Macri, com quem acabou se aliando no segundo turno e que o ajudou a vencer a eleição.
Clima – Negacionista das mudanças climáticas, Milei declarou na campanha que “essas políticas que culpam os seres humanos pela mudança climática são falsas e só servem para arrecadar fundos para financiar socialistas preguiçosos que escrevem documentos de quinta categoria”. O derretimento das geleiras no Polo Sul é uma realidade próxima do candidato, mas nem isso o faz acreditar no aquecimento global.
Diana Mondino – Deputada federal e aliada de primeira hora de Milei. Liberal como ele, é uma das defensoras da tese de que as pessoas devem ser livres para vender órgãos. Cita como exemplo o rim, alegando que a pessoa poderia vender um e seguir vivendo só com o remanescente.
Dólar – É o produto mais desejado na Argentina e também o mais escasso. Faltam dólares para pagar as importações e já começa a faltar matéria-prima na indústria.
Dolarização – Milei prometeu acabar com o peso, a moeda argentina, que define como “una mierda”, e adotar o dólar como moeda. O problema é que exatamente por não ter reservas cambiais, o país tem dificuldade para adotar o dólar como moeda corrente
Educação – Uma das controvérsias da campanha foi a ideia de oferecer vouchers aos argentinos para estudarem nas escolas privadas, em vez de manter a estrutura pública. Ao longo do segundo turno o candidato recuou.
Emprego – O índice de desemprego na Argentina está em pouco mais de 6%,um dos mais baixos da América Latina, mas os salários são corroídos diariamente pela inflação.
Esperança – Eleito, Milei repetiu uma frase usada pelo presidente Lula quando disputou a eleição contra José Serra, em 2002: “A esperança venceu o medo”.
Estado mínimo – Milei é adepto da radicalização da tese do Estado mínimo. Diz que vai acabar com o Estado onipresente e paternalista e transferir para o setor privado tudo o que puder ser transferido.
Exportação – A Argentina é um dos maiores exportadores de grãos e de carnes. Na campanha, Milei disse que não quer relações com países governados pela esquerda, como Brasil e China, dois dos maiores parceiros comerciais da Argentina. No último debate da campanha, disse que importações e exportações são negócios privados e que o Estado não deve se intrometer.
Grãos – Grande produtora de trigo, soja e milho, a Argentina espera se beneficiar da seca no Centro-Oeste do Brasil e da chuva no sul para obter melhores preços e conquistar mercados para seus grãos.
Importação – Por falta de dólares, a Argentina não está pagando as importações. Por isso, começam a faltar insumos para a indústria e para os hospitais.
Inflação – Um dos maiores pesadelos dos argentinos, a perda do poder de compra é uma das explicações para a derrota de Sergio Massa, ministro da Economia, também chamado de “ministro da pobreza”.
Karina Milei – Irmã caçula de Javier, é confidente e estrategista da campanha. Disciplinada e durona, deve ocupar um cargo próximo do presidente.
Liberdade – Palavra mais repetida por Milei na campanha e no discurso depois de eleito. Seus pronunciamentos sempre terminavam gritando três vezes “viva la libertad, carajo”. Não foi diferente no discurso de presidente eleito.
Lula – Presidente brasileiro, foi chamado de ladrão e comunista por Milei, que disse não querer conversa com o Brasil. No dia da eleição, Lula cumprimentou a Argentina, pelo processo eleitoral, mas não citou o nome de Milei. Não irá à posse no dia 10 de dezembro.
Medo – A campanha de Sergio Massa semeou medo entre os eleitores argentinos, dizendo que se Milei fosse eleito a passagem de trem subiria imediatamente, porque ele ameaçou cortar os subsídios. Disse também que a vitória do candidato ultraliberal seria um salto no escuro.
Papa – Depois de chamar o Papa Francisco de “enviado do maligno”, Milei mudou o discurso para não perder votos dos católicos argentinos. Seus interlocutores buscam agora uma forma de remediar as críticas feitas ao Papa por ser “comunista”. Milei diz que terá relações diplomáticas normais com o Vaticano.
Pobreza – É um dos maiores desafios do presidente eleito. Mais de 40% dos argentinos vivem abaixo da linha da pobreza. O país tem sérios problemas de moradia e boa parte da população está na miséria, o que pode ser percebido pela quantidade de moradores de rua.
Saúde – Adepto da redução da presença do Estado na vida do cidadão, Milei começou a campanha falando em privatizar os serviços de saúde, mas recuou depois da aliança com Macri e Patricia Bullrich.
Vaca Muerta – Reserva geológica localizada no norte da Patagônia argentina com grandes reservas de gás natural de xisto. O país tem projeto de um gasoduto e o Brasil manifestou interesse em financiar a obra. Milei quer privatizar Vaca Muerta.
Venda de órgãos – Em nome da liberdade, Milei defendeu a venda de órgãos como “um mercado qualquer”, mas recuou depois de uma pesquisa mostrar que a maioria dos argentinos é contra.
Victoria Villarruel – Vice-presidente eleita da Argentina, Victoria apresentou Milei aos líderes da extrema direita no mundo. É contra a punição dos militares acusados de tortura e questiona a informação de que a Argentina teve 30 mil mortos e desaparecidos nos anos de chumbo. Na Argentina o vice é também senador da República, mas Victoria é cotada para assumir o Ministério da Defesa e da Segurança.