É ilusória a ideia de que os professores do Rio Grande do Sul já foram bem pagos. Os problemas de hoje são outros e incluem a perda de status na sociedade e a comparação com outras carreiras que nem existiam no passado, mas o salário mesmo nunca foi o maior atrativo da carreira.
Os mais antigos haverão de lembrar qual era a reivindicação dos professores nas intermináveis greves dos governos Amaral de Souza, Jair Soares e Pedro Simon: o pagamento de um piso salarial de 2,5 salários mínimos.
Dois salários mínimos e meio seriam, hoje, R$ 3,3 mil. O piso atual, definido em lei federal, é de R$ 4.420,55 por 40 horas semanais. De onde então a percepção de que os salários antigamente eram melhores?
Parte da explicação pode estar na inflação, hoje sob controle. No tempo da hiperinflação, as noções de valor se perdiam. Os professores tinham 70%, às vezes mais, mas isso não significa que ganhassem mais do que hoje, tanto na rede pública quanto na particular.
Foi por um piso de 2,5 salários mínimos que os professores fizeram 60 dias de greve em 1985, 96 dias em 1987, 42 dias em 1989 e 74 dias em 1991, para citar as mais longas daquele tempo em que o Cpers lotava a Praça da Matriz, dezenas de ônibus vinham do interior e as passeatas se estendiam por várias quadras.
Não que o salário de hoje seja bom. Ainda falta muito para que o professor tenha uma remuneração à altura da importância do seu trabalho ou minimamente parecida com a das carreiras jurídicas ou das Secretarias da Fazenda e da Segurança Pública, elite do funcionalismo.
A carreira perdeu atratividade pelo salário, sim, mas principalmente pelo desrespeito aos professores, por parte dos alunos e também de muitos pais.
ALIÁS
A percepção de que a vida dos professores já foi melhor pode estar nas mudanças do plano de carreira, que acabaram com incorporações de funções gratificadas e adicionais de tempo de serviço, além do desconto previdenciário depois de aposentados.