Em uma tentativa clara de intimidar a vereadora Mari Pimentel (Novo), autora do pedido de CPI para investigar os indícios de irregularidades na Secretaria Municipal de Educação (Smed), a base do governo Sebastião Melo na Câmara fez andar um processo que estava parado na Comissão de Ética contra ela. O vereador Gilson Padeiro (PSDB) foi designado relator.
Não por coincidência, os vereadores subiram o tom depois de mais uma sessão tensa da CPI, em que foi ouvida uma testemunha-chave, o ex-secretário adjunto Mário de Lima. No depoimento, Lima confirmou a participação do secretário de Modernização e presidente municipal do MDB, Alexandre Borck, na compra de telas interativas da empresa de um dirigente do mesmo partido, uma das denúncias reveladas pelo GDI do Grupo RBS e que está no foco da CPI.
Borck diz que sua função no governo é transversal, pois atua na gestão de projetos estratégicos:
_ Em absoluto, faço qualquer tipo de intervenção a respeito de compras. Eu acompanho o andamento de projetos relevantes da gestão. É assim em relação a Smed ou em qualquer outra área. O depoimento do Mário, que está disponível no YouTube da Câmara, confirma justamente isso. Não é verdade, portanto, que tenho “participação na compra de telas interativas”.
Os colegas da base estão indignados com Mari Pimentel desde que ela começou a circular pelas escolas em busca de informações sobre as suspeitas de irregularidades em compras de equipamento, superfaturamento de obras e mau armazenamento de computadores e material didático.
A atuação de Mari incomoda particularmente o presidente municipal do PSDB, Moisés Barboza, porque ela tem proximidade com outros tucanos e chegou a ser convidada informalmente para trocar de partido. Com a CPI, essa possibilidade não existe mais. Embora Mari nunca tenha expressado interesse em ir para o PSDB, os tucanos sabem que ela está "queimada" com o Novo.
O processo do qual Gilson Padeiro será o relator tem origem na denúncia dos vereadores Mauro Pinheiro e Fernanda Barth, do PL, de que Mari "fraudou as votações da CPI", por aprovar convocações só com os votos da maioria dos presentes, nos momentos em que a base do governo retirou o quórum para impedir o andamento dos trabalhos.
Mari se defende dizendo que em nenhum lugar está escrito que as votações dependem de maioria qualificada, mas que reviu o procedimento após os debates acalorados sobre o tema. Hoje as duas CPIs unificaram as sessões de tomada de depoimentos e as convocações só podem ser aprovadas com o voto da maioria dos integrantes da comissão.
Após a citação no processo, Mari Pimentel terá o prazo de cinco sessões para apresentar a sua defesa. A seguir, o relator apresentará suas conclusões.
— É curioso que depois de mostrar quem seria o favorecido pelas compras suspeitas o governo tente me pressionar fazendo andar um processo que estava parado na Comissão de Ética — disse Mari à coluna.
O secretário de Comunicação do governo Melo, Luiz Otávio Prates, diz que a gota d'água que fez os vereadores retomarem o tema da denúncia à Comissão de Ética foi o fato de Mari Pimentel ter sido acusada de coagir testemunhas e de ter tentado intimidar Mário de Lima colocando no telão print de uma conversa privada dele no WhatsApp.