Para valer na eleição de 2024, a minirreforma eleitoral aprovada pela Câmara precisa ser aprovada pelo Senado em duas semanas, o que é pouco provável que ocorra. Será melhor para o processo se o Senado cozinhar as propostas em banho-maria para ter tempo de corrigir algumas distorções. O texto aprovado na Câmara piora o que já era cheio de imperfeições. Isso explica o pé atrás com que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) recebeu a proposta.
Os pontos mais nocivos têm a ver com o dinheiro do fundo partidário e eleitoral. Além de afrouxar as regras de fiscalização, o projeto permite o uso dos recursos do fundo partidário para comprar ou alugar veículo automotor, embarcação e aeronave, combustível e manutenção, "desde que comprovadamente a serviço do partido". Ora, tudo é serviço. Se Valdemar Costa Neto, presidente do PL, o partido que mais recebe recursos do fundo, quiser comprar um jatinho com dinheiro público, está liberado.
Hoje, as prestações de contas já não são confiáveis, pela possibilidade de burla, mas ficarão ainda mais cheias de furos. No caso das campanhas eleitorais, acaba com as prestações de contas parciais, que dão transparência às despesas realizadas no meio da campanha. Fica tudo para o final, fazendo com que só depois de conhecidos os resultados se saiba quem está financiando cada candidato e quanto ele está usando do fundo.
Há um ponto que preocupa as mulheres. Embora mantidas as cotas de 30% e a obrigação de destinar o dinheiro do fundo eleitoral na proporção das candidaturas, uma gambiarra permite que o dinheiro destinado a mulheres e negros seja partilhado com candidatos homens e brancos, desde que o cotista seja de alguma forma beneficiado.