O discurso do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, sobre a reforma ministerial em andamento no governo Lula é uma pérola da hipocrisia que permeia as relações políticas. Padilha trata com naturalidade chocante a entrada de um pedaço do PP e do Republicanos no governo. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, nesta quinta-feira (21), fingiu que os dois partidos estão 100% fechados, mas não estão, o que torna ainda mais caro o apoio dos deputados e senadores que já vêm votando com o governo e agora estão sendo premiados com cargos.
Não bastasse ter trocado a ex-jogadora de vôlei Ana Moser por um certo André Fufuca (PP-MA) no Ministério do Esporte e entregue Portos e Aeroportos ao Republicanos, na figura de Silvio Costa Filho, nos próximos dias assistiremos ao loteamento da Caixa Econômica Federal, uma das joias da coroa, para o domínio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Não se trata apenas da presidência da Caixa, mas a instituição inteira de “porteira fechada”, como se diz nesses casos, com as 12 diretorias.
No discurso, tudo é muito republicano. Literalmente. Silvio Costa e Fufuca vieram para somar e ajudar o governo a implementar as políticas do presidente Lula e não dos caciques a quem servem. Padilha insiste na figura de que pode-se trocar os jogadores, mas o treinador é Lula:
— Essas bancadas já votaram a favor de pautas estratégicas para o país. A nossa expectativa da participação na Câmara dos Deputados é que essas bancadas continuem votando como estão votando. O governo reforça isso politicamente. Você pode, eventualmente, mudar jogadores, mas o plano tático, a postura do técnico, o jeito de jogar, continuam sob a liderança do presidente Lula.
Padilha disse que o governo estava concentrado no debate de reestruturação dos ministérios, para “receber os dois deputados” e que o debate sobre “outros espaços continua”. Quem disse que a Caixa irá para ao PP de porteira fechada foi Lira, que acompanhou o presidente Lula na viagem a Nova York para a assembleia-geral da ONU.
Na entrevista, o ministro disse que a conversa sobre outros cargos, inclusive os da Caixa, continua agora, na volta do presidente Lula. E elogiou a capacidade de Lira de indicar nomes para cargos públicos:
— O presidente Arthur Lira é uma pessoa que tem todas as condições de indicar pessoas para esses cargos. Ele conhece a importância da governança e da governabilidade. Essas empresas públicas têm regras de governança e ritos de como são feitas as seleções das pessoas.