
A celebração dos acordos firmados com a China, que deveria ser o principal tema da entrevista coletiva de encerramento da viagem do presidente Lula à Ásia, acabou ofuscada por um assunto menor: a pergunta feita pela primeira-dama Janja da Silva ao presidente Xi Jinping sobre o TikTok. Lula se mostrou irritado com o vazamento da informação, porque no salão de banquetes os únicos brasileiros eram ministros do governo dele, o presidente do Senado, David Alcolumbre, e o deputado Elmar Nascimento.
— Primeira coisa que eu acho estranho é como essa pergunta chegou à imprensa, porque estavam só meus ministros lá. Então, alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa que aconteceu durante o jantar, algo muito, muito confidencial e pessoal — reclamou.
De acordo com a versão de Lula, foi ele quem questionou o presidente chinês sobre o TikTok, já que o governo defende a regulação das redes sociais:
— Fui eu que fiz a pergunta. Eu perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital, e sobretudo o TikTok. E aí a Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo contra as mulheres e contra as crianças.
Na versão divulgada pela GloboNews com base em informações de uma fonte que estava no jantar, Janja teria quebrado o protocolo e pedido a palavra para reclamar que o TikTok estava favorecendo o avanço da extrema-direita no Brasil. Por essa versão, o presidente chinês respondeu que Brasil tem o direito de regulamentar o TikTok e até banir a rede social se achar necessário.
O presidente demonstrou irritação com a informação de que ele e os ministros teriam ficado incomodados:
— A pergunta foi minha. Eu não me senti nem um pouco incomodado. O fato de a minha mulher pedir a palavra é porque a minha mulher não é uma cidadã de segunda classe. Ela entende mais de redes digitais do que eu.
À CNN, Janja também criticou o vazamento, disse que as falas foram distorcidas e que ela está sendo vítima de machismo e misoginia.
— Vejo machismo e misoginia da parte de quem presenciou a reunião e repassou de maneira distorcida o que aconteceu. E vejo a amplificação da misoginia por parte da imprensa, e me entristece que essa amplificação tenha o engajamento de mulheres — reclamou a primeira-dama à repórter Débora Bergamasco.