O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Com a consolidação da reforma ministerial que garante espaços de poder ao centrão, a expectativa do governo Lula é ter mais tranquilidade nas votações do Congresso até o final do ano. Entre os temas espinhosos que entrarão em pauta, estão a conclusão da reforma tributária sobre o consumo, a segunda parte, voltada à cobrança sobre a renda, e a taxação de fundos e offshores. O governo também prepara uma proposta alternativa à reforma administrativa em tramitação, que tem a simpatia do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Patrocinadas por Lira, as nomeações dos novos ministros do Esporte, André Fufuca (PP-MA), e de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), foram oficializadas na noite de quarta-feira (6). Os ingressos de Fufuca e Costa na Esplanada estão longe de garantir apoio total dos 49 deputados do PP e dos 41 do Republicanos ao governo, mas facilitam a negociação com os parlamentares das legendas. O objetivo é isolar as alas que são mais ligadas ideologicamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Na campanha eleitoral, os dois partidos integraram a coligação de Bolsonaro.
Nesta manhã, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) informou que, na próxima semana, Lula vai apresentar oficialmente a agenda prioritária para os próximos meses a Lira e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Conforme Padilha, mesmo sem a adesão oficial dos partidos ao governo, o ingresso de deputados no primeiro escalão "faz a diferença na relação com as bancadas".
— A expectativa é de que continue o compromisso (de PP e Republicanos) que já se apresentou no primeiro semestre — afirmou o ministro.
Nas votações da primeira metade do ano, o governo teve de suar a camisa e contar com a boa vontade de Lira e sua influência sobre o centrão para conseguir aprovar temas cruciais, como a PEC da reforma tributária e a reorganização dos ministérios. A votação do novo marco fiscal só foi concluída após a confirmação da entrega de cadeiras na Esplanada.
Antes disso, o Congresso deixou caducar medidas provisórias como a que transferia o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Banco Central ao Ministério da Fazenda e a que extinguia a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). A contragosto, o Planalto ainda viu a Câmara aprovar marco temporal para a demarcação de terras indígenas e derrubar trechos de um decreto de Lula sobre o marco do saneamento.
Aliás
A postura de PP e Republicanos pode ser comparada à do União Brasil, que mesmo com cargos no primeiro escalão desde o início da gestão de Lula se anuncia independente e abriga integrantes da oposição - entre eles o senador Sergio Moro (PR).