Era inevitável que na pauta de um almoço para tratar do papel dos bancos estatais no desenvolvimento do Rio Grande do Sul entrasse a enchente que arrasou o Vale do Taquari e agora afeta Porto Alegre. O assunto surgiu nas perguntas aos convidados, o vice-presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior, e os presidentes do Banrisul, Fernando Lemos, e do Badesul, Cláudio Gastal.
Todos garantiram que os bancos que administram têm programas especiais de financiamento para socorrer as empresas atingidas pela enchente. O presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, expressou a preocupação da entidade com a possibilidade de o dinheiro com juros subsidiados acabar sendo tomado por clientes que não foram afetados pela cheia do Rio Taquari, como outros que perderam tudo. Para evitar que isso ocorra, a Federasul e a Associação Comercial e Industrial estão fazendo um levantamento detalhado das empresas afetadas. Dos 1.249 CNPJs identificados, mais de 80% são de empresas com apenas um funcionário.
Ranolfo respondeu que no caso do BRDE não existe esse risco, porque os bancos têm governança profissional e estão preparados para garantir que o dinheiro chegue às empresas afetadas. Ranolfo lamentou que o BNDES ainda não tenha regulamentado os empréstimos no valor total de R$ 1 bilhão, prometidos quando o vice-presidente Geraldo Alckmin esteve no Rio Grande do Sul.
Gastal e Ranolfo detalharam os números que mostram o tamanho do Badesul e do BRDE, suas operações em 2022 e 2023, as perspectivas de crescimento e os setores prioritários.
Último a falar, Lemos deixou de lado as lâminas da apresentação preparada por sua assessoria e disse que ia "falar de um case": os 95 anos do Banrisul. Empolgado, afirmou que o Banrisul é indiscutivelmente um case de sucesso:
— Qual é o banco de varejo que, no Brasil, consegue chegar aos 95 anos com essa vitalidade? — perguntou, assinalando que o setor produtivo do Rio Grande do Sul precisa do Banrisul.
Lembrou que o banco sempre esteve na mira dos concorrentes, mas que não privatizá-lo foi uma opção acertada dos últimos governadores, por se tratar de uma instituição estratégica:
— Tenho certeza de que se o Banrisul fosse vendido, no dia seguinte as agências seriam fechadas. O vencedor do leilão transferiria a gestão para São Paulo e fecharia as agências, como fizeram com o Banerj, o Banespa e outros bancos públicos privatizados.
Seminário para discutir soluções
No almoço da Federasul, Ranolfo anunciou que o BRDE não quer apenas emprestar dinheiro para as empresas afetadas, mas contribuir para a solução dos problemas causados pelas mudanças climáticas. Ele propôs a realização de um seminário, financiado pelo BRDE, discutindo o que Santa Catarina fez depois de enfrentar várias enchentes e deslizamentos de terra. A inspiração veio do atual presidente do BRDE, João Paulo Kleinübing, que foi prefeito de Blumenau.
O governador Eduardo Leite não só aprovou a ideia como sugeriu que a abordagem seja ampliada, com encontros regulares. O primeiro seminário será realizado em novembro, reunindo o setor público, academia, entidades privadas e especialistas no tema.
Ranolfo disse que o projeto inicial é estruturar os debates em torno de eixos temáticos que contemplem desde as primeiras ações de defesa civil e a reconstrução emergencial dos serviços públicos, a adoção de novas tecnologias de monitoramento e alertas e para orientação do comportamento social diante das situações de emergência, assim como definir medidas para a retomada da atividade econômica e as fontes de financiamento.
— Vamos trazer a experiência da prefeitura de Blumenau no enfrentamento da grande enchente de 2015 que serviu de referência para um modelo adotado em todo o estado de Santa Catarina, onde as ferramentas tecnológicas hoje fazem parte da vida do cidadão — lembrou o vice-presidente do BRDE.