Uma CPI que nasce torta não tem como se endireitar no meio do caminho. Desde que foi proposta pela oposição, com base em teorias conspiratórias, estava claro que uma CPI mista para investigar os atos golpistas de 8 de Janeiro iria do nada a lugar nenhum. Até aqui, dito e feito. A CPI virou piada, espetáculo de mau gosto e perda de tempo.
A sessão desta terça-feira (11), que deveria ser a mais importante, foi uma sequência de cenas ridículas, protagonizadas por deputados, senadores e pelo depoente, que permaneceu calado durante oito horas de um interrogatório feito para as paredes.
Envergando a farda verde-oliva do Exército Brasileiro, o tenente-coronel Mauro Cid entrou na sessão disposto a não revelar detalhes dos segredos que já foram expostos pela quebra de sigilo de seu celular. Durante um dia inteiro, ignorou as provocações dos membros da CPI, que acabaram trocando farpas entre si.
Como já é praxe nesses casos em que o depoente usa o direito ao silêncio para não se incriminar, deputados e senadores mantiveram o roteiro e fizeram perguntas sabendo que não teriam respostas. Falavam para as câmeras, convictos de que importantes eram as perguntas e que o silêncio denota medo de se comprometer ou de incriminar o antigo chefe. Em certos momentos, parecia uma reprise da CPI da Covid, até porque vários integrantes são os mesmos.
Diante do silêncio do coronel Cid, a CPI tentou salvar a última sessão antes do recesso parlamentar aprovando quebras de sigilo bancário, fiscal e de telecomunicações de personagens importante não só no enredo golpista de 8 de janeiro, mas de episódios ocorridos dias antes.
Entre os pedidos aprovados estão os que atingem Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, e George Washington de Oliveira Sousa, condenado pela tentativa de atentado a bomba próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília, em dezembro do ano passado.
Silvinei é aquele que tentou dificultar a chegada de eleitores às urnas em cidades do Nordeste, no segundo turno, na clara tentativa de evitar a vitória do presidente Lula. As suspeitas que pairam sobre George Washington são mais graves e estão sendo apuradas por quem entende de investigação: a polícia. Ele é o homem por trás da tentativa de explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília, versão moderna do atentado ao Riocentro, na ditadura militar. Se tivesse obtido sucesso, teria provocado uma tragédia sem precedentes.
ALIÁS
A propósito de CPIs, a bancada do PT não desiste de pressionar pela criação de uma comissão destinada a investigar a venda da Corsan, mas o governo de Eduardo Leite tem maioria na Assembleia e a proposta não vai adiante. Em Brasília, o governo Lula resistiu até quanto pode, mas acabou se rendendo.