O fato de viverem em uma bolha, se informando apenas pelas redes sociais, levou os líderes bolsonaristas a cometerem um erro primário ao insistir na CPI dos atos de 8 de Janeiro. A fantasia de que uma Comissão Parlamentar de Inquérito livraria os baderneiros da responsabilidade pela depredação das sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário fez com que insistissem na investigação, imaginando que a culpa recairia sobre o governo Lula.
Nesse mundo imaginário, os vândalos que destruíram o patrimônio público eram infiltrados de esquerda e o governo seria considerado culpado porque não impediu o avanço da marcha rumo à Praça dos Três Poderes.
Como o governo resistiu à CPI com o argumento de que ela atrapalharia a votação de projetos importantes, os bolsonaristas sentiram-se estimulados a dobrar a aposta. Imaginavam que se o governo não queria era porque tinha alguma coisa a esconder. Mas, quando viu que a CPI sairia de qualquer forma, o governo fez o que todos fazem nestes casos: tratou de assumir o controle da presidência e da relatoria.
Resultado: já na primeira sessão em que foram aprovadas convocações e quebras de sigilo ficou claro que os bolsonaristas — logo eles, tão acostumados a lidar com armas — deram um tiro pé. Aliados e ex-ministros de Jair Bolsonaro estarão entre os primeiros a depor. Entre eles, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, considerados "homens-bomba", e os generais Augusto Heleno e Braga Netto.
Bolsonaro teve aprovado compartilhamento dos dados extraídos de seus telefones em outras investigações. É improvável que dali se tire alguma informação relevante, já que trocava o número e o aparelho regularmente.
ALIÁS
A devassa nos dados da quebra de sigilo telefônico do ex-ministro Anderson Torres e do tenente-coronel Mauro Cid é que devem preocupar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Até da minuta golpista encontrada na casa de Torres o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tinha cópia salva no celular.