Anunciados os 37 ministros do terceiro governo Lula, o retrato que se tem é o de uma equipe diversa, com recorde de mulheres, e montada usando o critério político como principal baliza. Os técnicos são exceção. Lula loteou o governo para garantir apoio no Congresso, sabedor de que não há como governar sem colocar os ministérios na bacia das almas. Isso significa render-se ao Centrão, entregar cargos para pessoas que já estiveram no barco do presidente Jair Bolsonaro e prestigiar velhas raposas políticas do MDB, como Renan Calheiros e Jader Barbalho, que garantiram cadeiras para seus rebentos em ministérios. E que ministérios!
Renan Filho, ex-governador de Alagoas eleito senador em outubro, vai comandar o poderoso Ministério dos Transportes. Significa ter sob seu guarda-chuva as estradas federais do país e coordenar o processo de concessão das que terão a gestão repassada à iniciativa privada. Jader Filho vai para outra máquina eleitoral, o Ministério das Cidades, ainda sem definição das estruturas que estarão debaixo do seu guarda-sol.
O MDB emplacou a dupla e mais a senadora Simone Tebet, que deve ser colocada na cota pessoal de Lula, como gesto de gratidão pelo apoio dela no segundo turno, fundamental para a vitória na eleição. Simone vai comandar o Ministério do Planejamento e Orçamento, uma pasta essencial em qualquer país civilizado, por fazer o esboço do futuro, mas no Brasil tratada como patinho feio, porque não dá Ibope ao seu titular.
Na equipe econômica, estrela é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O trio se completa com o vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério da Indústria e Comércio. Os três são potenciais candidatos a presidente em 2026.
O ministério tem surrealismos como a indicação do atual governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), pelo União Brasil, com aval do senador David Alcolumbre. O representante do PDT é um velho conhecido dos brasileiros, o ex-ministro Carlos Lupi, fênix da política por renascer das cinzas mesmo sem ter votos, que ficará com a Previdência.
São tantos ministros que será difícil até para Lula decorar seus nomes. Alguns têm o nome civil, mas na verdade são representantes dos caciques que os indicaram. A futura ministra do Turismo, por exemplo, é Daniela Souza Carneiro, mas seu codinome é Daniela do Waguinho, referência ao marido Wagner dos Santos Carneiro, prefeito de Belford Roxo (RJ). Deputada federal mais votada do Rio de Janeiro, é indicação do União Brasil.