Atrasado porque o governo não entendia sua importância, o Censo que está radiografando o Brasil ainda não tem data para ser concluído. Quando estiver, teremos informações essenciais para a formulação de políticas públicas, coisa que burocratas acostumados a pensar apenas em planilhas talvez não compreendam. Também é falta de compreensão da importância do Censo a resistência de parte dos brasileiros em responder ao questionário do Brasil.
De outra parte, o boicote desrespeitoso aos recenseadores, pessoas que identificaram nesse trabalho temporário uma forma de obter renda. Eles são incansáveis. Voltam incontáveis vezes ao domicílio até obter as respostas que completarão esse trabalho essencial ao planejamento.
Fui sorteada para responder ao questionário completo. Como quase não parava em casa, a moça do IBGE precisou ser persistente. Mas no dia em que finalmente conseguimos cumprir a tarefa, me encantou pela simpatia, pela educação e pela responsabilidade. Contou-me que é jornalista de formação, mas está fora do mercado de trabalho e por isso fez a prova do IBGE. Desculpou-se por tomar meu tempo e explicou que a escolha de quem vai responder ao questionário completo é aleatória. Disse a ela que não se preocupasse. Responderia com prazer porque sei da importância do Censo. Em menos de meia hora o trabalho estava encerrado. Ela recusou o cafezinho e partiu para a próxima empreitada.
Chamou minha atenção o grau de detalhamento. Além das perguntas óbvias sobre religião, idade e grau de instrução, por exemplo, a moça do IBGE perguntou se alguém do nosso núcleo familiar tinha problemas de visão, se um de nós tinha diagnóstico de autismo, se éramos empregados com carteira assinada, pessoas jurídicas ou aposentados. Questionou sobre eletrodomésticos, carros, motos, empregados, dados que o IBGE usará para definir como se estratificam as classes sociais no Brasil. Na hora de responder sobre a renda de cada um, entregou-me o tablet para que eu marcasse na tabela a faixa correspondente. Não me importaria de responder a ela, mas achei a discrição importante para garantir com pessoas mais desconfiadas a precisão dos dados.
Esses dados todos serão importantes até, vejam só, para garantir a precisão das pesquisas eleitorais nas próximas eleições. Para que a amostra dos institutos seja representativa da população é preciso saber quantos somos em cada faixa de idade, renda, grau de instrução, cor, religião. Sem esse retrato, que hoje é impreciso, o Brasil não tem como conhecer o Brasil.