Se tiver juízo, Eduardo Leite não aceitará o convite para assumir agora a presidência nacional do PSDB. Porque a condição de primeiro governador reeleito da história do Rio Grande do Sul o obriga a se dedicar em tempo integral a resolver os problemas do Estado.
O PSDB é um partido político em frangalhos e precisa de alguém que se dedique de corpo e alma à reconstrução, mas Leite, mesmo sendo o preferido de Tasso Jereissati, Bruno Araújo e outros tucanos, não é última bolacha do pacote. E o PSDB não é maior do que a tarefa de governar o Estado que lhe deu um inédito voto de confiança, mesmo tendo renunciado na esperança de ser candidato a presidente.
Na campanha eleitoral deste ano, Leite não descartou ser candidato em 2026, mas não é hora de colocar a carroça na frente dos bois. Para se credenciar a um projeto nacional, o primeiro que terá de fazer é um governo de sucesso. E não é fácil fazer um segundo governo bem-sucedido com as condições estruturais do Rio Grande do Sul.
De largada, Leite precisará encontrar uma forma de lidar com a redução da receita decorrente dos cortes de ICMS da energia elétrica, da gasolina e das telecomunicações. A compensação prometida pelo governo federal vale apenas para o ano de 2022 e não estão claros os critérios que serão utilizados. O futuro dependerá de negociações com o governo que assume em 1º de janeiro e que trabalha sem qualquer folga no orçamento.
Para fazer um governo melhor, Leite terá também que trabalhar em conjunto com outros governadores por uma reforma tributária que leve em conta as obrigações dos Estados e municípios e distribua melhor o bolo de impostos. Uma boa interlocução com o governo federal será importante para buscar soluções conjuntas, caso das obras de infraestrutura. A condição de presidente de um partido de oposição em nada contribui para esse diálogo tão necessário.
Leite pode ter protagonismo nacional e até se cacifar para 2026, mas não precisa da presidência do PSDB como vitrine. Melhor será para ele e para o Estado que se torne conhecido pelo que fez e não pela retórica de possível candidato.
Fenômeno Zucco
Campeão de votos nas duas eleições que disputou, o tenente-coronel do Exército Luciano Zucco (Republicanos) deixará ao menos três aliados na Assembleia Legislativa em 2023.
Além de ser o deputado federal gaúcho mais votado neste ano, com 259.023 votos, Zucco ajudou a fazer com que o jornalista Gustavo Victorino (Republicanos) fosse o primeiro entre os eleitos para a Assembleia (112.920 votos). O militar também foi decisivo na campanha do irmão e delegado da Polícia Civil, Rodrigo Zucco (59.648 votos), e do capitão da Marinha do Brasil Martim Adreani (29.040 votos).
— Em 2018, a votação que tive foi em grande parte fruto do fenômeno que é o capitão Bolsonaro. Evidente que isso teve peso e importância novamente neste ano, mas o fato de receber a confiança de quase 260 mil gaúchos também demonstra que o trabalho que desenvolvemos na Assembleia Legislativa foi reconhecido — avalia Zucco, que foi também um dos principais apoiadores da vitoriosa campanha do general Hamilton Mourão ao Senado.