Após semanas de indefinição a respeito de seu futuro político, o governador Eduardo Leite anunciou nesta segunda-feira (28) que vai renunciar ao cargo. O comunicado da decisão foi feito em entrevista coletiva, no Palácio Piratini.
— Vou renunciar ao poder para não renunciar à política — disse Leite, em um vídeo apresentado antes do início da coletiva.
O governador também confirmou que vai permanecer filiado ao PSDB — ele estava avaliando a possibilidade de migrar para o PSD para ser candidato a presidente. O movimento permite que Leite esteja apto a concorrer a outros cargos nas eleições de outubro, inclusive à Presidência da República.
Com a renúncia, assume o comando do governo gaúcho o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, que acumula a função de secretário da Segurança Pública desde o início da gestão. Ranolfo é pré-candidato a governador pelo PSDB. O ato de renúncia deverá ser formalizado na próxima quinta-feira (31).
— Tenho absoluta confiança na condução do Ranolfo. Sempre esteve ao nosso lado para acompanhar cada uma das políticas públicas — disse Leite.
O governador classificou a eleição deste ano como "crítica" e fez referência a declarações do presidente Jair Bolsonaro no fim de semana sobre "inimigos internos". Também alfinetou o PT, partido do ex-presidente Lula, afirmando que a sigla gerou "terreno fértil" para o surgimento de discursos autoritários.
— A solução para o nosso país, que passou por um época difícil, com inflação, desemprego, crescimento tímido, não está em procurar culpados internamente, mas buscar em nosso potencial o que pode ser feito para superar esses desafios. Estou dando minha contribuição para que se consiga viabilizar um entendimento e apresentar uma alternativa aos brasileiros para que se possa, a partir de 2023, implementar as reformas que são necessárias.
Eleição no horizonte
Cercado de tucanos no púlpito em que concedeu a entrevista, Eduardo Leite anunciou que, nas próximas semanas, pretende percorrer o país, sobretudo para conversar com os jovens. Para ser candidato a presidente, entretanto, precisará convencer o governador de São Paulo, João Doria, a sair da disputa. Os dois se digladiaram a prévia presidencial do PSDB no ano passado, e o paulista saiu vencedor.
— Telefonei para João Doria há pouco e conversamos. Respeito as prévias, elas aconteceram e são legítimas. Mas não é sobre as prévias, não é pessoal.
Por duas vezes, Leite leu uma declaração de Doria em um evento de fevereiro, em que o paulista cogita abrir mão da candidatura em nome da união da chamada terceira via. Para o governador gaúcho, as prévias não perdem sua legitimidade, mas, "no tempo da política", há possibilidade de mudança na orientação do partido:
— Se lá na frente houver a convicção de que outro nome pode fazer mais, é legítimo que se discuta com outros partidos. Minha convicção é de participar ativamente deste processo. As prévias aconteceram há quatro meses, naquele contexto político. É preciso que nos mantenhamos acima das prévias, acima dos partidos, acima das aspirações pessoais.
Entre os partidos citados por Leite, estão PSD, União Brasil, MDB e Cidadania. Ele afirmou que vai trabalhar pela união do centro democrático:
— Não contem comigo para dispersar candidaturas. Não é sobre um projeto pessoal, é sobre o Brasil.
Sucessão no RS
A respeito da própria sucessão no Rio Grande do Sul, Leite disse que o PSDB liderou o projeto até o momento e "tem um grande nome para continuar liderando esse projeto, o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior". Ao mesmo tempo, não fechou a porta para alianças:
— Tal qual faremos no cenário nacional, faremos a discussão local com os parceiros, entre os quais o MDB, que neste fim de semana apresentou seu nome.
Questionado por diferentes jornalistas sobre seu futuro e a possibilidade de concorrer à reeleição, Leite tergiversou e repetiu diversas vezes a mesma frase:
— A renúncia não me tira nenhuma possibilidade, e me oferece todas.
Embora tenha apresentado Ranolfo como candidato natural do PSDB, em nenhum momento ele disse com todas as letras que não tentará o segundo mandato, o que representaria a quebra de uma promessa feita na campanha de 2018 e repetida inúmeras vezes durante o governo.
Compareceram ao anúncio os principais líderes do PSDB gaúcho, como os prefeitos Jorge Pozzobom (Santa Maria), Valdir Bonatto (Viamão), Fátima Daudt (Novo Hamburgo) e Paula Mascarenhas (Pelotas), além de deputados estaduais e federais.
Leite é o primeiro governador desde Pedro Simon (MDB), em 1990, renunciar ao cargo faltando meses para o final do mandato. Na ocasião, Simon afastou-se para concorrer ao Senado.
Quem é o novo governador
Natural de Esteio, Ranolfo Vieira Júnior, 55 anos, é servidor público há mais de 35 anos. É casado com Sônia há 26 anos e pai de três filhos: Guilherme, Gustavo e Gabriela. Formado em Direito pela Unisinos (1996), ingressou na Polícia Civil em 1998, como delegado. Começou a carreira em Rio Grande, no sul do RS.
Dirigiu o Departamento Estadual de Investigações Criminais por seis anos e foi chefe de Polícia do RS por quatro anos, no governo de Tarso Genro (PT). Nesse período, criou o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e presidiu o Conselho Nacional de Chefes de Polícia Civil.
Foi secretário de Segurança Pública de Canoas entre 2017 e 2018. É professor licenciado da Ulbra, instituição onde lecionou por 14 anos. Também foi professor da Academia da Polícia Civil por 10 anos. Desde 2019, assume como vice-governador e secretário de Segurança Pública. É pré-candidato a governador pelo PSDB.