As três granadas que o ex-deputado Roberto Jefferson jogou contra a viatura da Polícia Federal, que foi até sua residência no domingo (23) para prendê-lo, e os tiros de fuzil que poderiam ter matado quatro policiais federais acabaram acertando alvos a milhares de quilômetros do Rio de Janeiro. Atingiram a instituição Polícia Federal, o Judiciário, o Exército e a Presidência da República, com estilhaços na imagem do presidente Jair Bolsonaro. Porque não há explicação plausível para o fato de um preso em regime domiciliar ter o arsenal que Jefferson tinha em casa.
Indiciado por quatro tentativas de homicídio, o fanfarrão que no ostracismo conseguiu transformar o PTB em um partido nanico, gabou-se de ter dado 50 tiros e que não matou os policiais porque não quis. Tinha de 20 a 25 armas em casa (palavras dele) e uma quantidade imprecisa de munição. Como isso é possível, se a lei diz que na prisão domiciliar não se pode ter armas, telefone celular ou contato com pessoas que não sejam da família? Quem controla a venda de armas e munições? O Exército e a Polícia Federal.
Jefferson é, há tempos, um fora da lei. Aliado do presidente Jair Bolsonaro, que tenta a qualquer custo se desvincular dele agora, pregou a rebelião armada, repetiu discursos contra a urna eletrônica, insultou ministros do Supremo Tribunal Federal. Impedido de concorrer, nomeou o Padre Kelmon como linha auxiliar de Bolsonaro. Por ter atirado contra a polícia, foi chamado de bandido por Bolsonaro, que agora tenta convencer os eleitores de que mal o conhece, embora sobrem imagens dos dois juntos.
ALIÁS
Roberto Jefferson é um desses políticos que se agarra ao poder feito carrapato. Integrante da tropa de choque de Fernando Collor, ganhou notoriedade no primeiro governo Lula, ao denunciar o esquema que batizou de mensalão. Cassado, condenado e preso, emergiu no governo de Michel Temer e, se a Justiça não impedisse, teria emplacado a filha no Ministério do Trabalho.
Nada de novo no Ipec
A primeira da série de pesquisas previstas para esta semana, a do Ipec, ainda não captou qualquer efeito da reação de Roberto Jefferson à prisão, que desnorteou a torcida bolsonarista, depois que o presidente Jair Bolsonaro chamou o ex-aliado de bandido.
A pesquisa começou a ser feita no sábado (22) e foi concluída nesta segunda-feira (24). Os números são exatamente os mesmos da semana passada: 50% para o ex-presidente Lula e 43% para Bolsonaro, com 5% de brancos e nulos e apenas 2% de indecisos.
Transformados em votos válidos, esses percentuais equivalem a 54% para Lula e 46% para Bolsonaro, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.