Para o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcus Firme dos Reis, pode ter havido erro na análise prévia da operação para cumprir mandado de prisão na casa do ex-deputado federal Roberto Jefferson no domingo (23). A avaliação foi feita em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta segunda-feira (24).
Jefferson, que já estava em prisão domiciliar, reagiu com tiros de fuzil e lançamento de granadas e dois policiais ficaram feridos. Ele acabou preso após negociação. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a volta do ex-deputado para a prisão em regime fechado, depois que ele divulgou novos ataques a integrantes da Corte, embora devesse se manter afastado das redes sociais e dos meios de comunicação. O mandado foi cumprido na casa de Jefferson, no município de Levy Gasparian, no Rio de Janeiro.
Firme dos Reis vê possível erro na preparação para a operação, já que Roberto Jefferson constantemente publicava vídeos com armas de fogo por meio das contas de aliados nas redes sociais. Ainda na noite de domingo, a Polícia Federal divulgou nota afirmando "que agiu com toda a técnica e protocolos exigidos para a resolução de crises, culminando com a rendição do preso" (leia a íntegra abaixo).
— Geralmente vai uma equipe, e dependendo da análise de risco, se monta essa equipe. Ontem foi uma equipe de quatro policiais, eu acredito que não se esperava a reação violenta por parte do ex-deputado. Até por conta de todo o histórico que teve de outras prisões (Jefferson já havia sido preso, no mesmo processo, em agosto de 2021). Só que acredito que, talvez, tenha sido feita uma análise errada do caso, já que ele vinha apresentando, em vídeos anteriores, postagens com armas. Então, eles foram recebidos covardemente — afirmou o policial federal.
Questionado sobre a posse de armas por um preso em regime domiciliar, Marcus Firme dos Reis confirmou que houve erro também neste sentido. O presidente da Fenapef disse que isto será investigado.
— O controle de armas é feito pela própria Polícia Federal e também pelo Exército, a depender do calibre da arma. Eu não sei bem quais eram as armas que estavam lá. Por ter sido num domingo e ter acontecido todos esses fatos que acabaram acontecendo nós ainda estamos com as informações meio truncadas e não sabemos os detalhes do que aconteceu — explicou o agente, que ponderou que, se confirmada a utilização de um fuzil por Jefferson, a fiscalização seria responsabilidade do Exército.
Outro ponto a ser investigado após a operação é o número de "pessoas estranhas" que aparecem nas imagens dentro da casa do ex-deputado. Uma delas é o ex-candidato à Presidência pelo PTB, partido de Jefferson, Padre Kelmon, que teria intermediado a entrega das armas do ex-deputado à PF.
— A presença daquela quantidade de pessoas estranhas na casa não é justificável e terá que ser apurada. O porquê que eles entraram, como entraram e da forma que entraram — afirmou o presidente da Fenapef.
Firme dos Reis revelou que, como houve confronto, inclusive com policiais feridos, a operação será alvo de investigação.
— Eu acredito que tem que ver como foi feita essa análise para ir lá. Isso aí tudo será feito. Uma operação policial, quando acontece esse tipo de coisa, há uma análise posterior, inclusive para que as próximas acertem. A polícia age também dessa forma, quando acontece alguma coisa errada, faz toda uma análise, vê de onde saiu o erro, por que aquilo aconteceu, para que nas próximas operações não aconteça.
Tentativas de homicídio
Marcus Firme dos Reis avaliou que Roberto Jefferson cometeu tentativas de homicídio contra os policiais na operação.
— Eu não tenho dúvida que será feita uma investigação sobre o novo crime do Roberto Jefferson. Porque até então ele só seria tirado da prisão domiciliar e levado para a prisão, agora ele cometeu um novo crime, que é a tentativa de homicídio.
Na nota divulgada no domingo, a PF destacou que, além de cumprir a ordem judicial de prisão, deteve o ex-deputado em flagrante por tentativa de homicídio.
Tom de policial em diálogo gravado "não é corriqueiro"
Já no domingo, passou a circular em redes sociais e aplicativos de mensagem um vídeo de um diálogo entre um policial federal e o ex-deputado. Chamou a atenção o tom conciliador do agente, que chega a dizer a Jefferson: "O que o senhor precisar a gente vai fazer".
O presidente da Fenapef ponderou que o contexto de negociação enseja um tom mais pacífico, mas que a atuação também deve ser avaliada.
— Nós estamos com muitas ressalvas em relação a este vídeo. Porque não sabemos o que está em torno daquela casa, o que está em torno do que está acontecendo. Quais são as circunstâncias que ocorreram para que o policial agisse daquela forma. Ele estava tentando ali negociar a saída pacífica do Roberto Jefferson em meio a toda aquela confusão. Então não sabemos como foi, o que ocorreu. Então a gente está com muitas ressalvas. Realmente não é corriqueiro aquilo ali — completou.
Ouça a entrevista na íntegra:
Leia a nota da Polícia Federal sobre a ação na íntegra:
A Polícia Federal informa que concluiu na noite deste domingo (23/10) o cumprimento de decisão judicial expedida pelo Supremo Tribunal Federal, no município de Levy Gasparian, no estado do Rio de Janeiro.
A prisão foi cumprida após intensa negociação entre a Polícia Federal e o investigado, que ofereceu resistência inicial ao cumprimento da decisão judicial com o uso de arma de fogo e explosivos.
Durante a diligência, dois policiais federais ficaram feridos por estilhaços de granada lançada pelo alvo. Eles foram prontamente atendidos, tiveram ferimentos leves e seguem sendo acompanhados pela PF.
Além da prisão judicial, o investigado também foi preso em flagrante sob a acusação, inicial, de tentativa de homicídio, sem prejuízo de eventuais outros crimes cometidos durante a ação.
A perícia técnica criminal foi acionada e o local de crime já está sendo periciado, inclusive a residência do alvo. O preso foi conduzido à Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro para lavratura do auto de prisão em flagrante e demais formalidades decorrentes do cumprimento da ordem judicial.
A Polícia Federal reafirma que agiu com toda a técnica e protocolos exigidos para a resolução de crises, culminando com a rendição do preso.