Preso no último domingo (23) após arremessar granadas e disparar mais de 50 vezes contra quatro policiais federais, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) defendeu o presidente Jair Bolsonaro de forma enfática e sugeriu a demissão dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em uma entrevista à Rádio Gaúcha, em maio de 2020.
Na época, Bolsonaro vivia impasse com o Congresso e criticava governadores pelo fechamento de atividades econômicas nos primeiros meses de enfrentamento ao coronavírus. Isolado politicamente, o presidente reforçou a sua base de apoio cercando-se de líderes do centrão como o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, que depois se tornaria ministro-chefe da Casa Civil, e Valdemar Costa Neto, o chefão do PL.
Foi nesse mesmo período que Jefferson se aproximou de Bolsonaro fazendo críticas ao STF e aos adversários políticos do presidente, como Rodrigo Maia, que presidia a Câmara dos Deputados.
À Gaúcha, Jefferson disse que o STF e imprensa agiam como oposição ao governo. Sugeriu que Bolsonaro revogasse as concessões de emissoras de rádio e TV e que demitisse ministros do Supremo por meio de um "ato institucional".
— A toga não é mais forte que o fuzil. O Supremo tem lá nove velhinhos e duas velhinhas, todos progressistas, mais ligados ao pensamento de esquerda, ao Foro de São Paulo, ao globalismo, ao Estado mundial único, à Constituição mundial única, à falta de soberania dos estados, à união global de todos os países, uma só bandeira, o hino internacional socialista — afirmou ao programa Timeline Gaúcha.
No momento da entrevista, o ex-juiz Sergio Moro havia deixado o governo federal havia apenas três semanas após acusar Bolsonaro de interferir na Polícia Federal para ter acesso a informações sigilosas e proteger familiares de investigações.
Jefferson criticou Moro. Disse que o ex-ministro se transformou em "presidente da República do Ministério da Justiça" e não queria aceitar indicações feitas por Bolsonaro. O ex-deputado do PTB negou que o presidente tenha interferido na Polícia Federal, mas disse que, "se tivesse tentado interferir, era direito dele, constitucional e legal".
— Eu não vejo crime nem violência à administração federal.
Sem defesa
Em maio de 2020, Jefferson contou que estava imunodeprimido e não poderia se "arriscar a contrair o coronavírus". À época, já morava em Levy Gasparian, mesmo endereço em que foi preso no domingo.
O então presidente do PTB, que já se tratava de um câncer, disse que passou por um período de depressão. Depois voltou a ler jornal e ver televisão. Concluiu que Bolsonaro não tinha defesa.
— Ninguém defende o Bolsonaro, que é fácil de ser defendido.
Na entrevista, Jefferson afirmou que queria levar Bolsonaro para o PTB para disputar a Presidência em 2022. Mas não deu certo: Bolsonaro acabou no PL de Valdemar Costa Neto.
Já o PTB elegeu apenas um deputado e deve se fundir ao Patriota.