O ex-ministro Sergio Moro falou nesta quinta-feira (11), em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, sobre os motivos que o levaram a deixar a equipe do presidente Jair Bolsonaro. Até então titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública, ele deixou o cargo em 24 de abril.
Questionado sobre a decisão de integrar a equipe do presidente, abandonando 22 anos na magistratura, o ex-juiz afirmou que viu a "oportunidade" de "avançar na agenda e impedir o retrocesso" no combate à corrupção.
— Foi uma decisão de certo risco, mas feita com a melhor das intenções. (...) A Lava-Jato tem início, meio e fim. Quando eu saí, (a força-tarefa) já não estava no auge. Quando se pensa num contexto geral, esquecendo o rótulo, o combate à corrupção avançou no país? Há controvérsia. Houve derrotas em 2019. O ministério trabalhou para que não acontecesse, mas praticamente trabalhou sozinho — declarou.
Ao deixar a pasta, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. O ministro saiu do governo no mesmo dia em que o então diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, foi exonerado pelo presidente.
— Eu não saí do governo para construir uma oposição. Eu saí, declinei meus motivos e o objetivo nem foi prejudicar o governo. Até fiquei surpreso com a abertura do inquérito (sobre a denúncia no STF). O objetivo era proteger as pessoas, a Polícia Federal — disse ao Timeline.
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Sem predileção em investigações
Moro foi questionado sobre uma declaração da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), também em entrevista à Rádio Gaúcha, de que o ex-juiz tinha "predileção" pelo PT e que protegia o PSDB.
— Falam muito que eu protegia o Aécio (Neves, do PSDB). Tudo o que surgiu encaminhamos ao STF. Por que não condenou? Porque a gente não tinha jurisdição. É uma distorção, um discurso. (...) Esse tipo de alegação é vazia. (...) A operação não era um produto da minha ação. Tinha polícia, MP, magistrados de outras instâncias — disse.
Moro também negou que tenha "segurado" a realização de operações da PF enquanto era ministro. E criticou a "politização" de investigações da corporação.
— O trabalho sempre foi feito normalmente, mas é ruim tentar se politizar essas investigações da PF. Isso deveria ser evitado. A PF tem de atuar com autonomia. Quando políticos, até nem entra o caso da deputada (Carla), nem vejo importância nela, sinceramente, falam disso da PF isso é péssimo e deveria ser evitado em qualquer aspecto — declarou.
— Não é papel do ministro da Justiça ficar conduzindo investigação. O papel é estruturante, dar à policia condições de autonomia e material. E o motivo da minha saída (do governo) tem a ver com essa questão — acrescentou.
O centrão no governo
O ex-ministro afirmou ainda que a aproximação do presidente Jair Bolsonaro com partidos do centrão é uma contradição entre "o que foi prometido e o que está sendo feito". Segundo ele, a única preocupação do presidente é com um eventual processo de impeachment.
— O problema não é só aliança, mas com quem se faz, porque se faz. Antes mesmo da minha saída, já tinha essa movimentação. (...) Nada com construir pautas públicas, mas a preocupação era o impeachment — afirmou.
— Este era um motivo que me causava desconforto. Dentro desses partidos há políticos com histórico de condenações. Acho que um dos problemas que tivemos na democracia foi a necessidade de aprovar pautas e, por vezes, se fez alianças com pessoas que não se destacavam pela ética — disse.